Falta menos de um mês para celebrar os 50 anos do 25 de Abril e há, da parte de várias gerações, a obrigação ética e moral de prestar homenagem a uma revolução que permitiu viver as nossas vidas em liberdade, com Estado de direito e com Estado social.
Foi a liberdade que mudou tudo e que permitiu o que de melhor se passou em Portugal neste meio século de democracia. Apesar do lamentável costume nacional de dizer mal de tudo e de todos – costume que levou o país a eleger 50 deputados que querem acabar com a democracia liberal que o 25 de Abril instaurou – é preciso afirmar que, no essencial, estes 50 anos são um sucesso.
Há sistemas, como o da educação ou o do ensino superior, que já levam hoje quase 60% dos jovens ao ingresso em politécnicos e universidade. O país também construiu um Estado social, com políticas de ação social e de proteção social, que tem claros indicadores de sucesso, apesar de problemas e de insuficiências que todos conhecem.
Nem tudo correu exatamente como sonhámos, é verdade. A economia portuguesa não é tão inovadora e competitiva como devia, sobretudo depois de 40 anos com Bruxelas a injetar mais de 150 mil milhões de euros nas nossas empresas, escolas, infraestruturas, etc. Porém, a verdade é que só agora Portugal começa a ter condições para competir com os países europeus com que se mede: temos hoje cerca de 80% da população ativa com o ensino secundário, tal como é comum na Europa, mas no 25 de Abril esse número não chegava sequer aos 15%…
Custa muito superar atrasos estruturais. E o pior atraso que nos legou o Estado Novo foi mais de um terço da população ser, em 1974, analfabeta.
Há outros exemplos de evoluções mal conseguidas, como a do sistema de justiça. Justiça lenta, tantas vezes arbitrária, mais focada no impacto mediático da sua ação do que em obter decisões finais justas, atempadas e compreensíveis para os cidadãos. É uma justiça com bloqueios democráticos que urge superar, se não pela reflexão das próprias magistraturas, então pela ação legislativa e governativa dos representantes eleitos pelo povo.
Um país é sempre uma obra inacabada. É sempre possível fazer mais e melhor – e é obrigação de todos tentá-lo. Mas – em vez das aleivosias dos inimigos da democracia, dos autoritários, dos xenófobos, dos racistas e, em particular, dos mentirosos – devemos olhar lucidamente para o que se fez bem. E, agora, com as melhores condições que construímos em 50 anos de democracia, devemos empenhar-nos em fazer melhor.
Viva a liberdade!
* Presidente do Conselho Distrital da SEDES Guarda