O caminho da serra escura

“Depois de um chefe de governo com nome de orla marítima, agora teremos um com apelido de país balcânico. Até morrer, ainda verei ser primeiro-ministro um João Plutão e aguardo com expectativa a primeira mulher portuguesa a ser Presidente da República, Falésia Nova-Iorque.”

Enquanto fui a Aragão e voltei, o Presidente indicou um novo primeiro-ministro. O anterior deixa o cargo com os cofres do país em estado de abcesso orçamental. Saí do país do Costa rico e voltei à terra do Montenegro.
Depois de um chefe de governo com nome de orla marítima, agora teremos um com apelido de país balcânico. Até morrer, ainda verei ser primeiro-ministro um João Plutão e aguardo com expectativa a primeira mulher portuguesa a ser Presidente da República, Falésia Nova-Iorque.
No panorama internacional, o próximo líder da nação poderá ficar conhecido como Lewis Blackhill, Louis Montnoir, Liudvikas Juodkalnija ou, em montenegrino, Ljudevit Crna Gora.
Montenegro é montanhoso e cheio de caminhos sinuosos. O país com o mesmo nome também. As coincidências de ambos (o país e o político) também se cruzam comigo. Em 2018 e em 2024, entre várias possibilidades, optei por Montenegro. E de ambas as vezes, fi-lo na companhia de amigos. Não por ser um destino de sonho, mas porque entre o campo minado que são o Kosovo e Pedro Nuno Santos, a escolha de Montenegro proporcionava momentos de algum sossego.
No entanto, o compromisso com a verdade obriga-me a uma revelação que me deixa apreensivo quanto ao futuro. É que o melhor que Montenegro tem para se ver é mesmo a costa. O Luís se calhar não merece este trocadilho, mas Kotor vale muito mais do que três mil milhões de medinas. No interior, a capital é desinteressante e o relevo é desmotivante. Já no território da ex-república jugoslava os caminhos para ir da principal cidade até à praia e a mosteiros ortodoxos são umas estradas estreitas no meio das ravinas.
À hora a que escrevo, sei apenas que o presidente da Assembleia da República deverá ser Aguiar Branco. Que foi exactamente como me senti a viajar pelas estradas de Montenegro. A guiar, branco.
Leio também sobre a provável ausência da Iniciativa Liberal no novo governo. Não me admiro muito. Se há coisa que não falta em Montenegro são Rochas. Sobre o Chega, já está mais do que falado. Montenegro parece sérvio, mas não é. Montenegro parece sério, e espero que seja. Se não for, a capital de Montenegro é Podgorica, mas o capital de Montenegro pode gorar-se.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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