Por forma a responder ao desafio lançado pelo jornal O INTERIOR para me pronunciar sobre as expectativas para o ano novo, recuperei o artigo escrito há precisamente um ano e que se desenvolveu sobre o mesmo tema: O que esperar do ano que se inicia?
Precisamente um ano depois de ter destacado a coesão territorial como o maior desafio do país, o que mudou? O que foi feito para inverter a situação de um Portugal a várias velocidades?
O que foi feito para que os cidadãos que não vivem na faixa mais ocidental de Portugal possam sentir que dispõem das mesmas oportunidades dos restantes portugueses?
Qual foi o impacto de todas as medidas que o Governo se propôs implementar para travar a morte anunciada do interior de Portugal?
É verdade que nunca, como agora, se falou tanto em coesão territorial, nunca houve um discurso tão alinhado com a necessidade de garantir o desenvolvimento dos territórios de baixa densidade, atraindo pessoas e investimento.
Mas a realidade é que um ano volvido tudo permanece na mesma, ou melhor, tudo está pior porque, entretanto, passaram 365 dias sem que quem por cá vive ou aqueles que possam, eventualmente, ponderar cá viver, percebam, contundentemente, que esta faixa de Portugal é terra com futuro.
O Governo transformou a Unidade de Missão para a Valorização do Interior numa Secretaria de Estado. Simbolicamente, optou por localizar o gabinete do Secretário de Estado em Castelo Branco. Mas também optou por aumentar, uma vez mais, as portagens na A25 e na A23. Anunciou com pompa e circunstância descontos para as empresas, mas, aumentou, de forma consciente e deliberada, o custo para todos os cidadãos que, por falta de alternativa, nelas têm que circular e até para todos os que pretendem conhecer Portugal, para além do sol e mar, “amputando” as expectativas de muitos empresários que teimam em acreditar no potencial turístico da nossa região. Atualmente, é mais caro ir de Lisboa à Guarda do que ir de Lisboa a Madrid, Barcelona, Paris ou Roma, por exemplo. E esse desfasamento de preços acabou de aumentar.
O mesmo Governo que proclama como prioritária a construção de um Portugal mais coeso menoriza a ULS da Guarda, agudizando ainda mais a falta de médicos. Atente-se que das 57 vagas disponíveis para a região Centro, ao Hospital Sousa Martins cabem apenas 6, não estando atribuída qualquer vaga para especialidades com necessidades tão prementes como Gastroenterologia, Oftalmologia, Pneumologia, entre outras.
O Governo aprovou, recentemente, o valor máximo para o passe social único, para as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, medida que pretende garantir uma melhor mobilidade e que é suportada pelas verbas do Orçamento de Estado. Nada contra. Mas e os portugueses que vivem fora das áreas metropolitanas, e os idosos que vivem isolados e sem meios para se deslocar? Quanto vai ser investido para garantir a sua mobilidade?
A verdade é que a falta de adequação da prática do Governo ao discurso que, sistematicamente, os seus membros utilizam, de preferência sob as luzes das câmaras, tem origem num problema maior e de resolução muito difícil: a falta de conhecimento que os governantes têm do país que governam.
Quanto a isso ficámos todos elucidados com o conselho de poupança do senhor Ministro do Ambiente, que informou os portugueses que, querendo, podem sempre poupar na fatura da eletricidade, bastando para tal reduzir a potência contratada para o valor mínimo.
Já alguém o convidou para vir ao distrito da Guarda passar uns dias, em regime de potência mínima?
2019 vai ser um ano de muitos desafios. Vivemos dias em que a intolerância e o populismo assumem uma dimensão assustadora. Com três atos eleitorais, a democracia portuguesa será posta à prova ao longo de todo o ano. Espero que, dentro de alguns meses, possamos considerar os desafios superados. Para bem do país, para bem de todos.
Termino desejando a toda redação do jornal O INTERIOR, seus colaboradores e leitores um ano com muita saúde e capacidade de superação.
Feliz ano novo!!
* Vice-presidente da Câmara Municipal de Pinhel