A identidade de um indivíduo não se forma apenas nos primórdios da sua existência, mas é o resultado de socializações recorrentes ao longo da vida, por influência das opiniões de outros e do desenvolvimento dos seus valores e competências. Deste modo, a socialização constitui um referencial para a formação das identidades, no qual ocorre a assimilação das características culturais, sociais e económicas, os sentidos de pertença e das experiências de colaboração pessoal e profissional com os grupos a que pertencem.
Também não podemos ignorar a importância dos fatores relacionais (o que nos une, distingue ou funciona como oposição aos outros) e culturais (códigos de comunicação, rituais, símbolos, interações e mobilizações coletivas), no processo de formação da identidade dos indivíduos.
As motivações relativas à opção pela carreira de professor durante a formação inicial prendem-se com diversas razões: as influências familiares, os modelos de aprendizagem observados ao longo da escolarização dos professores enquanto alunos, o sentido altruísta em ser útil aos outros e à sociedade, os aspetos intrínsecos da profissão associados à atividade de ensinar e à formação adquirida e, por fim, os fatores extrínsecos, supostamente, o prestígio social, o salário e os períodos de férias.
A dinâmica entre a identidade pessoal e profissional dos docentes surge como um espaço de lutas e conflitos, na construção de maneiras de ser, de estar na profissão, de adquirir inovações e aceitar mudanças, que implicam os fatores da adesão, da ação e da autoconsciência, aos quais os professores não são alheios.
Na voz dos professores surgem sentimentos, recordações, vivências, compromissos, sonhos, ansiedades e experiências que ganham sentido, pois os relatos das histórias de vida dos sujeitos destacam a sua individualidade, o tempo e o contexto social e profissional onde ocorrem. O Eu pessoal é inseparável do Ser e do Tornar-se professor(a), do pertencer a uma família, a um círculo de amigos ou das relações que se vão estabelecendo ao longo da vida com o mundo que nos rodeia.
No campo da investigação, as vertentes da profissionalidade, da identidade, da reflexividade e da ação colaborativa têm surgido de forma crescente em Portugal, quer seja em estudos de Mestrado e Doutoramento, quer em artigos científicos ou conferências realizadas no âmbito das Ciências da Educação. Maria do Céu Roldão (2007), investigadora de renome internacional, destaca a importância do papel dos contextos e das interações em os professores iniciantes são socializados, quando confrontados com as culturas profissionais dominantes existentes nas escolas. É neste sentido que a dimensão afetiva docente no encontro dos professores principiantes com a realidade educativa, o choque ocorre quando percebem que esta é bem diferente da idealizada, o que provoca sentimentos de perda de autoconfiança, desânimo e desejo de abandono.
António José Alves Oliveira
(Castelo Branco)