Cara a Cara

«Seia é uma das casas do Projeto DME»

20200615 Jr (6 Of 17) By Sofia Nunes
Escrito por Efigénia Marques

P – O que nos reserva esta edição do DME, que vai decorrer em Seia?
R – Realizado anualmente desde 2003, o Festival DME regressa em 2023 à Serra da Estrela de 18 a 21 de dezembro. Este ano destaca-se a comemoração do décimo aniversário do Ensemble DME, que abre o festival no dia 18, na Casa Municipal da Cultura de Seia, com um concerto especial de lançamento da nova edição fonográfica “Raiz do Som II”. A programação conta também com o último concerto d’ O Canto das Sementes, no dia 19, reunindo, num só concerto, música de quatro jovens estudantes de composição e do compositor Dimitris Andrikopoulos, encomendas do Projecto DME e que serão interpretadas pela violoncelista austríaca Katharina Gross e a clarinetista holandesa Fie Schouten. O festival de Seia é novamente o palco da final da 12ª Edição do Concurso Nano Músicos Electroacústicos, desta vez não só na categoria do Ensino Artístico Especializado, mas também no Ensino Superior de Música. O ensemble Electroville Jukebox, dedicado à música contemporânea, experimental e improvisada, apresenta-se também na Casa Municipal da Cultura no dia 20. No último dia realiza-se o concerto final do Estágio de Aperfeiçoamento Interpretativo com a participação especial da solista do Ensemble DME e diretora da Escola de Artes da Universidade de Évora, Ana Telles. O estágio decorrerá ao longo dos quatro dias do festival, orientado pela maestrina Rita Castro Blanco juntamente com os artistas Katharina Gross e Fie Schouten, a solista do Ensemble DME Beatriz Costa e os compositores Mariana Vieira e Jaime Reis, sendo direcionado a instrumentistas que se encontrem a frequentar o ensino superior de música e profissionais da área.

P – Porquê em Seia? Não é um risco fazer um festival com estas características numa cidade do interior?
R – Sou natural de Seia e realizar esta e muitas outras atividades do Projeto DME na região – residências artísticas, atividades pedagógicas e concertos com diferentes ensembles e artistas de renome internacional no panorama da música erudita contemporânea – é, para mim e para a equipa do projeto, fundamental.

P – Que balanço faz das edições anteriores?
R – Todos os anos tentamos diversificar a nossa programação e, sendo um dos nossos maiores eventos anuais, temos sempre a preocupação de levar até Seia diferentes artistas, portugueses e estrangeiros, que desenvolvam um relevante trabalho na nossa área, colocando-os em contacto com os jovens estudantes e artistas locais, acreditando numa maior viabilização e contacto entre diversos entidades e artistas, num espírito de intercâmbio cultural.

P – O festival DME tem condições para crescer, ou vai manter-se tal como está?
R – É um dos eventos do Projecto DME que este ano celebra 20 anos de atividade. O primeiro festival que realizei foi na Polónia, em 2003, e nessa altura nunca pensei que fosse possível manter o projeto durante tantos anos com atividade ininterrupta. Ao longo deste tempo fomos desenvolvendo vários apoios e parcerias que possibilitaram o crescimento do Projecto DME, da sua equipa e dos eventos que realizamos. Seia é uma das nossas casas, onde realizamos grande parte dos nossos projetos, um município que nos tem apoiado e acolhido e onde esperamos que possamos continuar.

P – O que é o Projeto DME?
R – O Projecto DME existe desde 2003 e é tutelado pela Associação de Fomento do Ensino Artístico (AFEA), fundada em 1997. Aposta fundamentalmente na criação e formação na área da música erudita contemporânea e eletroacústica, mas também em cruzamentos com outras abordagens estéticas e linguagens artísticas. Com a minha direção artística, teve a sua primeira edição na Polónia, mas a sede é no Conservatório de Música de Seia. Em 2013 foi criado o Ensemble DME, que desde então realizou mais de uma centena de atividades (concertos, workshops, e.g.) em Portugal e no estrangeiro (Brasil, Bélgica e Espanha). O projeto DME encomendou mais de uma dezena de obras a compositores portugueses e estrangeiros. Em 2017, ganhou uma nova casa, o espaço Lisboa Incomum. Desde então, o programa de residências artísticas e a temporada de concertos decorrem com maior incidência em Seia e Lisboa. Apesar das atividades se desenvolverem maioritariamente em Portugal, foram realizadas ações na América do Sul (Brasil e Colômbia), Ásia (China, Coreia, Filipinas e Japão) e Europa (Espanha, França, Itália, Mónaco, entre outros). O projeto DME é financiado pela Direcção-Geral das Artes/ Ministério da Cultura com um apoio sustentado. Faz ainda parte da instituição International Confederation of Electroacoustic Music e é uma das entidades fundadoras da riZoma – Plataforma de Intervenção e Investigação para a Criação Musical, uma rede de entidades portuguesas ativas ligadas à criação, à educação, à interpretação e à investigação, com larga experiência no contexto da música erudita contemporânea.

_____________________________________________________________________

JAIME REIS

Diretor artístico do Festival DME

Idade: 40 anos

Naturalidade: Seia

Profissão: Compositor e professor de Composição na Escola Superior de Música de Lisboa

Currículo (resumido): Estudou Composição e Música Eletroacústica com João Pedro Oliveira, Emmanuel Nunes e K. Stockhausen; Continuou os estudos de doutoramento na Universidade Nova de Lisboa em Etnomusicologia; Um dos seus focos é a dinâmica das formas, forças e fluxos em música, em que explora percursos polifónicos espaciais através de sistemas de som imersivos em forma de cúpula; Professor de Composição e Música Eletroacústica na Escola Superior de Música de Lisboa; investigador no Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa; A sua música foi tocada em todo o mundo por ensembles e músicos como Christophe Desjardins, Pierre-Yves Artaud, Aida-Carmen Soanea, Ana Telles, ensemble Fractales, Ensemble Horizonte, Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, Machina Lírica, Orchestre de Flûtes Français e Aleph Gitarrenquartett.

Livro preferido: Alguns dos meus escritores preferidos são Pierre Bourdieu, José Saramago, Jorge Luís Borges, Italo Calvino e o filósofo coreano Byung-Chul Han

Filme preferido: Todos os de Stanley Kubrick, quase todos de Ingmar Bergman e Manoel de Oliveira, Spielberg, Lars von Trier, Ken Loach e, recentemente, de Salomé Lamas

Hobbies: Acaminhar em espaços naturais, andar de bicicleta e pilotar aviões

Sobre o autor

Efigénia Marques

Leave a Reply