Cara a Cara

«Em qualquer tipo de investigação, mesmo não dando frutos, há sempre algo que se pode aproveitar de forma prática»

Vasco Cardoso
Escrito por Efigénia Marques

P – A sua tese recebeu o Prémio Pedro Nunes de melhor tese ibérica de mestrado. Qual é o tema e em que consiste?
R – O tema da minha tese é “Evolução Colisional dos Troianos de Júpiter”. Os troianos de Júpiter são uma população de asteroides que orbitam o Sol com Júpiter e o que acontece é que nós estudamos e fazemos simulações desta população ao longo do tempo, ou seja, desde, mais ou menos, a formação do Sistema Solar e simulamos as colisões que acontecem dentro desta população. O que fazemos depois é verificar se o resultado dá o mesmo que as observações, se o que se observa hoje em dia com telescópios é o mesmo que nos aparece nos resultados finais das nossas simulações. Resumidamente é isto.

P – E de onde surgiu a inspiração para este tema?
R – Eu estava a estudar em Coimbra e queria fazer um ano fora, que até calhou no ano da tese, e um professor meu, o professor Nuno Peixinho, mencionou-me Paula Benavidez, professora na Universidade de Alicante (Espanha). Falei com ela, mostrou-me o tipo de trabalho que fazia, que era a mesma coisa em relação ao sinal, mas com outros corpos, os corpos transneptunianos, que são asteroides para o lado de Neptuno. Foi a professora Paula Benavidez que me propôs trabalhar os troianos de Júpiter na minha tese de mestrado e foi daí que veio a ideia.

P – Que profissão especifica pretende seguir com a sua formação? Este prémio pode abrir portas para o futuro?
R – Sim, acho com certeza que sim porque, como é óbvio, um prémio destes no currículo é sempre algo que pode vir a favorecer-me. Imediatamente ainda não estou a sentir uma diferença enorme, acho que só mais tarde, quando me for candidatar para doutoramento – que gostava de tirar –, é que possivelmente isto será uma grande ajuda. Eu gostava de seguir na área da investigação, talvez numa universidade ou numa empresa, logo se verá. Exatamente no quê ainda não sei, mas o que quero seguir é isso, ser investigador.

P – Que progressos é que espera que a tese alcance no que diz respeito à compreensão da formação do Sistema Solar? Tenciona investigar mais este tema específico ou espera que sirva de inspiração para outras pessoas o investigarem mais a fundo?
R – Sim, acho que o tema é um bocado diferente e por isso, possivelmente, haverá pessoas que talvez venham a interessar-se também por este tema, porque não é uma coisa que se investigue muito, especialmente por aqui. Esta investigação é deveras importante para o processo de formação do Sistema Solar, pois é como se fosse uma parte do puzzle e o que nós conseguimos concluir no nosso trabalho é que conseguimos tirar algumas informações sobre estes corpos, como a condensabilidade, as velocidades a que colidem, qual era população inicial e final, esse tipo de coisas. E todas estas informações acabam por nos dar restrições em relação a como é que todo o processo se deu. Não nos dá factos diretos sobre a formação em si, mas comprova-nos teorias que já existem ou até invalida certas coisas de teorias que já existem sobre a formação do Sistema Solar.

P – Qual é a importância de investigar estes temas, para além da curiosidade natural que existe sobre os mistérios do Universo?
R – Acho que em qualquer tipo de investigação, mesmo não dando frutos, há sempre algo que se pode aproveitar de forma prática. É sempre importante só pela curiosidade em si e depois, ao descobrir-se algo em qualquer aérea da ciência, acaba-se sempre por se perceber que o que se descobre, mesmo que seja só por curiosidade, acaba por também dar para coisas mais práticas. Por exemplo, antigamente, quando se fazia matemática, o objetivo não era aplicá-la na prática, era só por curiosidade, mas depois acabou por dar alguns frutos na prática e as equações que foram escritas acabaram por ser úteis. No meu caso, na minha área, fazemos simulações de um processo que depois resulta em missões espaciais que vão aos objetos que nós estudamos. E o facto de existirem missões espaciais que vão confirmar as nossas teorias, isso depois também implica o desenvolvimento de tecnologia para essas missões espaciais, portanto, para além da parte da curiosidade, acaba sempre por aparecer a parte do avanço tecnológico ligado a estas investigações.

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VASCO CARDOSO

Vencedor do Prémio Pedro Nunes 2024 de melhor tese ibérica de mestrado

Idade: 24 anos

Naturalidade: Seia

Profissão: Investigador

Currículo (resumido): Escola Secundária de Seia; Licenciatura em Física e Mestrado em Astrofísica e Instrumentação para o Espaço, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC)

Filme preferido: “Interstellar”, de Christopher Nolan

Livro preferido: Não tem

Hobbies: Caminhar, ténis e ver filmes

Sobre o autor

Efigénia Marques

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