Cara a Cara

«Se estou aqui é porque quero e estou disposto a pagar o preço que o desporto profissional exige»

Rafael Barbas
Escrito por Efigénia Marques

P – Vai iniciar uma carreira profissional no ciclismo ao assinar pela Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados. Como chegou aqui? R – Cheguei aqui depois de percorrer um longo caminho, com vários altos e baixos, tal como todos os atletas que chegam a este nível. Nunca é fácil, mas olhar para trás e ver que todo o trabalho compensou é algo incrível, e de que certamente não me arrependo. Ingressei no ciclismo aos 14 anos e, em cadete, comecei a competir pela equipa da “terra”, o CCDR Colmeal da Torre, apenas em BTT. Foi sem dúvida aqui que o gosto pelo ciclismo começou a crescer, sendo que dois anos depois dei o salto para o ciclismo de estrada e, em júnior, ainda com 16 anos, ingressei na ACR Roriz, uma equipa do Norte em que aprendi muito e vivi grandes experiências das quais trago memórias que não irei esquecer. Foram eles que me abriram as portas para que agora, em 2023, pudesse dar o tão esperado salto para o ciclismo profissional. Pelo meio deste processo, a passagem pela seleção nacional foi simplesmente algo incrível e provavelmente a melhor coisa que me aconteceu a nível desportivo ao longo destes quatro anos, de onde retirei os melhores ensinamentos que certamente levarei comigo nesta nova etapa da minha vida. P – Qual é a sua expetativa relativamente a esta nova etapa? R – As expetativas são grandes, mas um passo de cada vez. A equipa muda, o pelotão muda, a dificuldade aumenta, mas a ambição permanece a mesma e é a partir daí que temos de trabalhar. Acredito que vão ser tempos de grande aprendizagem e evolução, os quais pretendo encarar com grande seriedade, mas ao mesmo tempo diversão pois no final do dia é isso mesmo o que interessa: divertirmo-nos e aproveitar ao máximo tudo o que o ciclismo tem para nos dar. P – E quais são os objetivos? Quando se vai estrear? R – Os objetivos são simples e passam pelo essencial do ciclismo, aprender, evoluir e ajudar os meus colegas no que estiver ao meu alcance. É fundamental estar consciente do que está por vir e saber das dificuldades que o ciclismo profissional traz, mas sem dúvida que se tudo correr bem terei muito tempo para estar na luta por bons resultados e, no final de contas, é esse um dos pontos que me move. Quanto à estreia, ainda é muito cedo para falar em datas. Primeiro vamos ter alguns estágios e “reuniões” onde abordaremos esse assunto e juntamente com toda a equipa planificaremos 2023 da melhor maneira possível. A época é longa e sem dúvida que serão muitos os quilómetros percorridos ao longo do ano. P – Como concilia os treinos, as provas, os estudos e a vida social? R – Sem dúvida que é extremamente complicado, mas se estou aqui é porque quero e estou disposto a pagar o preço que o desporto profissional exige. São muitas horas de treino ao longo das semanas onde nem sempre a motivação é a melhor, mas nós, atletas, não podemos depender dela para fazer o que tem de ser feito. Conciliar com os estudos é a parte complicada do processo, mas acredito que a organização seja a chave de tudo isto. Quanto à vida social, nem sempre é fácil, existem dias e dias, mas muitas das vezes é preciso fazer escolhas e abdicar de várias coisas, consciente de que o tempo não volta atrás, mas ao mesmo tempo empenhado em fazer valer a pena todas as escolhas e opções tomadas até aqui. Por outro lado, já são muitas as amizades que o ciclismo me deu e certamente continuará a dar, o que só por si já faz todo este processo valer a pena. P – Quais são as principais dificuldades com que tem que lidar para treinar, correr e progredir? R – As dificuldades são muitas, é um desporto complicado que requer muito de nós e que nem sempre traz os resultados pretendidos. Tenho constantemente a necessidade de moldar tudo o que está a acontecer e tentar retirar tudo aquilo de bom que a modalidade tem para me dar. Por ser um desporto maioritariamente de resistência são muitas as horas de treino todos os dias, e temos de nos expor constantemente à realidade que nos rodeia. Nós, ciclistas, ainda não conseguimos escolher as condições ideias para treinar, muito menos controlar tudo aquilo que nos rodeia. Faça chuva, faça sol, seja Verão e estejam 40ºC, seja Inverno e estejam 0ºC, temos de ir para a estrada e treinar na mesma. Sem dúvida que esse é um dos pontos-chave juntamente com o facto de termos de partilhar a estrada com todos os outros condutores de veículos que, por vezes, não respeitam o espaço e os direitos de quem vai em cima de uma bicicleta a treinar, sendo que no meio disto tudo somos nós, sem dúvida, o elo mais fraco. P – Até onde vai a sua ambição na modalidade? R – A minha ambição é a normal de qualquer ciclista, chegar ao WorldTour, o escalão mais alto do ciclismo, estando bem presente o pensamento de um dia vir a disputar grandes provas do calendário mundial. É isso o que me motiva a treinar todos os dias e entregar o melhor de mim à modalidade. _____________________________________________________________________

RAFAEL BARBAS

Ciclista profissional na Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados

Idade: 18 anos Naturalidade: Gonçalo (Guarda) Profissão: Estudante Currículo: Em 2022 foi sexto classificado II Judex Trujillanos; quinto na Taça de Portugal; 12º e sexto português da Volta ao Concelho de Loulé e 12º da classificação geral – 7º português – da Volta a Portugal de Juniores; Com a seleção nacional participou no Trophée Morbihan Juniors (França) e no Tour Pays de Vaud (Suíça). Livro preferido: não tem Filme preferido: não tem Hobbies: andar de bicicleta

Sobre o autor

Efigénia Marques

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