Cara a Cara

«As bandas são escolas de amizade e companheirismo, e essa parte está em falta e muito»

Escrito por Jornal O INTERIOR

Entrevista a Eduardo Cavaco, Presidente da direção da Banda da Covilhã

P – A Banda Covilhã celebrou 150 anos de existência no passado dia 1. É presidente da direção há 12, qual é o seu balanço?
R – Numa primeira fase, como maestro e responsável pela Academia de Música, foi preciso “partir muita pedra”, inovar, criar, lançar e, acima de tudo, ter uma estratégia. Estratégia essa que foi alicerçada em sete pilares: ter músicos, arranjar instrumentos, ter um fardamento, ter uma sede, ser a melhor banda de Portugal, ter uma orquestra de sopros semiprofissional e internacionalizar a banda. Até à presente data conseguimos os concretizar os quatro primeiros, pelo que considero um balanço extremamente positivo. Agora é manter e trabalhar nos restantes.

P – Nestes 150 anos quais foram os momentos mais marcantes para o crescimento da banda?
R – Como qualquer banda filarmónica, há altos e baixos, e a Banda da Covilhã não foi diferente de todas as outras 700 que existem em Portugal continental e ilhas. Nos primeiros 75 anos de existência começava e acabava, mas mantém a sua atividade ininterrupta desde 1 de dezembro de 1944. Um dos momentos altos foi participar, em 1870, nas comemorações da elevação da Covilhã a Cidade durante três dias; nos anos 40 cresceu muito, mas a emigração e a crise da indústria têxtil levou ao seu enfraquecimento, para não falar do momento trágico ocorrido a 5 de maio de 1992, quando, de madrugada, a sede da banda ardeu por completo, tudo! Restou uma fotografia queimada. Nos últimos 15 anos tudo mudou: dezenas de crianças e jovens músicos chegam à banda, uma nova sede, o novo fardamento, o novo instrumental e os projetos sociais, pedagógicos, artísticos e culturais ao mais alto nível tem sido muito marcantes e afirmativos da importância de uma estrutura como a Banda da Covilhã no panorama regional e mesmo nacional.

P – A Banda da Covilhã tem perdido ou aumentado a procura por parte de novos músicos devido à pandemia?
R – Perdemos alguns, mas ganhámos outros. A Banda fechou as portas, mas manteve os ensaios e aulas na Academia online. Por outro lado, com inovação e criatividade, realizámos recitais, celebrámos o 25 de Abril na varanda da casa de cada músico, nos santos populares tivemos sardinhas “take away”, abrimos uma banca no mercado municipal todos os sábados de manhã, etc., etc…

P – Qual o impacto que a pandemia teve na coletividade?
R – A falta de contacto físico, pois as bandas são escolas de amizade e companheirismo, e essa parte está em falta e muito. Por outro lado, o cancelamento de festas e atividades levou a uma perda de receitas no orçamento anual de mais de 40 por cento.

P – Quais as principais dificuldades que a banda tem neste momento?
R – De uma forma geral, tirando a contingência em vigor face ao estado pandémico, precisamos de 15 novas fardas para 15 novos músicos que se vão juntar aos 50 que a banda tem atualmente. Necessitamos também de 30 mil euros para a aquisição de novos instrumentos e reparação de alguns.

P – Quais os projetos para o futuro?
R – A Banda da Covilhã tem sempre vários projetos rumo ao futuro. Já em 2021 retomaremos as grandes atividades dos 150 anos que foram adiadas: sessão solene, bolo gingante, concerto e jantar de gala, lançamento do CD. Ao mesmo tempo, vamos lançar um concurso internacional de música e temos em agenda fazer da Covilhã a Capital Nacional da Filarmonia durante três dias, juntando mais de 600 músicos num acontecimento único no interior do país.

Perfil de Eduardo Cavaco

Presidente da direção da Banda da Covilhã

Idade: 50 anos

Naturalidade: Moura (Baixo Alentejo)

Currículo: Doutorado em Biomedicina; 8º grau do Conservatório em clarinete; vários cursos de direção de orquestra de sopros e percussão

Livro preferido: “O Perfume”, de Patrick Suskind

Filme preferido: “O Nome da Rosa”, de Jean-Jacques Annaud

Hobbies: Ler, viajar, praia, montanha e jardinagem

Sobre o autor

Jornal O INTERIOR

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