Cara a Cara

«A nossa saúde está gradualmente a degradar-se pela falta de fixação de mais profissionais no distrito da Guarda»

Cara A Cara
Escrito por Efigénia Marques

Entrevista a Anabela Gonçalves, responsável pelo movimento cívico “A saúde não se aGuarda”

P – No que consiste o movimento cívico “A Saúde não se aGuarda”?
R – É um movimento de cidadãos da Guarda que se preocupam com o estado atual dos cuidados de saúde prestados à população do distrito. Tendo em conta que a saúde contribui de forma direta para o desenvolvimento local, parece-nos importante assegurarmo-nos que a saúde está e estará acessível a todos, independentemente da sua situação económica, em proximidade das populações, de forma a que não coloque em causa a prestação de auxílio em tempo útil. Ao assegurarmo-nos que a ULS tem recursos humanos e técnicos em quantidade e qualidades suficientes, a confiança das populações aumenta e, por conseguinte, a sua esperança média de vida. Ao termos uma população com saúde e um sistema que lhes garanta esse acesso estamos a contribuir para o desenvolvimento de uma região que nos últimos tempos tem perdido população e tecido económico. Pretendemos dar o nosso contributo para que se inverta este ciclo de desertificação. O distrito da Guarda tem uma área geográfica de aproximadamente 5.500 quilómetros quadrados e a nossa ULS tem uma abrangência populacional estimada de 168 mil habitantes.

P – O que levou à criação do movimento? Qual a necessidade deste tipo de iniciativas no distrito?
R – Foi despoletado pelo conhecimento público do número de vagas para médicos atribuídas à ULS da Guarda. É com muita preocupação que vemos que os recursos humanos que atualmente trabalham na ULS são em número manifestamente insuficiente e, em muitos dias, não existe sequer determinadas especialidades médicas para acudir a uma urgência. Sabemos que há centros de saúde que não têm médico de família. Há todo um conjunto de situações que nos deixam alarmados e que temos o dever cívico de reclamar. Não podemos deixar cair por terra um direito consagrado na Lei, que consagra o direito à saúde, garantindo a todos a prestação de saúde de qualidade, centrados na proteção da dignidade e que entendemos estar a ser descurado. A nossa saúde, sim, dizemos “nossa” porque a saúde é de todos, está gradualmente a degradar-se não em termos de falta de qualidade de profissionais da ULS, que são de reconhecida competência, mas sim pela falta de fixação de mais profissionais nos centros de saúde e ULS da Guarda, o que implica naturalmente dificuldades em prestar todos os cuidados adequados à população.

P – Neste momento qual é o ponto de situação em relação à saúde na ULS da Guarda?
R – Ao que sabemos – e não é mais que o público em geral –, o maior problema é a falta de recursos humanos. Nos últimos tempos temo-nos deparado com notícias que dão conta da contínua perda de elementos e, naturalmente, de serviços do Hospital e Centros de Saúde do distrito, nomeadamente médicos de família, Cardiologia, Pneumologia, Oftalmologia, ORL, Ortopedia, Gastroenterologia, Dermatologia, Obstetrícia, Anestesiologia. Sabemos que não é um problema recente, mas tem-se acentuado, o que se tornou uma preocupação eminente. Ou seja, a falta de médicos especialistas é dos assuntos que mais nos preocupa neste momento. Noutras situações, temos relatos de serviços que estão a sucumbir à falta de profissionais, em que o esforço que os técnicos existentes fazem para garantir os cuidados médicos necessários é hercúleo, mas tem limites.

P – O que tem falhado?
R – Essa é uma pergunta que os guardenses exigem ver respondida por parte da tutela, bem como o porquê de o Hospital da Guarda ter sido escolhido como hospital de primeira linha no combate à Covid e agora termos sido esquecidos/ignorados aquando da atribuição de vagas por parte do Ministério da Saúde. Sabemos que a ULS tem um serviço de Medicina Intensiva, Pneumologia e laboratório de análises (único na zona Centro) de excelência.

P – Qual será o destino da ULS Guarda se outro rumo não for tomado nesta área?
R – Tememos ficar sem as valências de saúde anteriormente referidas. Pretendemos saber o que o Governo quer fazer com os equipamentos afetos à ULS, que, a confirmarem-se as últimas notícias, temos uma gritante falta de recursos humanos.
Sendo um hospital de uma capital de distrito, não deveria ser preocupação da tutela assegurar que existem na Guarda recursos em quantidade e qualidade suficientes para fazer face às necessidades da população? Queremos garantir que a população não se sujeite a transferências para outras unidades hospitalares, distantes do local onde vive, com os constrangimentos que dai advêm.

P – O que acha que pode salvar o setor da saúde no distrito?
R – O que pode e deve salvar o setor da saúde são os responsáveis do Governo assegurarem-se que todos os princípios consagrados na Lei de Bases da Saúde são cumpridos! É dever do Estado promover e garantir o direito à proteção da saúde através do Serviço Nacional de Saúde (SNS), dos Serviços Regionais de Saúde e de outras instituições públicas, centrais, regionais e locais. O direito à proteção da saúde é o de todas as pessoas gozarem do melhor estado de saúde físico, mental e social, pressupondo a criação e o desenvolvimento de condições económicas, sociais, culturais e ambientais que garantam níveis suficientes e saudáveis de vida, de trabalho e de lazer.

P – Quais são próximas iniciativas que o movimento “A saúde não se AGuarda” tem previstas?
R – Serão em função do resultado de cada uma delas. Estamos seguros que todas serão com a mesma vontade de reivindicação dos direitos de saúde a que todos temos direito. Temos que salvar o que é nosso, por nós e pelos nossos, porque a saúde é de todos e para todos!

ANABELA GONÇALVES

Uma das responsáveis pelo movimento cívico “A saúde não aGuarda”

Idade: 50 anos

Naturalidade: França

Currículo (resumido): Gerente de loja; Ensino secundário na Escola Secundária da Sé (Guarda)

Filme preferido: “Philadephia”, de Jonathan Demme

Livro preferido: “A conspiração”, de Dan Brown

Hobbies: Caminhadas, desporto e ler

Sobre o autor

Efigénia Marques

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