Pensar em ciência ou investigação constitui, ainda hoje, uma ideia distante para muitos, reduzida ao imaginário de um centro de investigação, de uma universidade ou de um laboratório. Todavia, a ciência é, cada vez mais, uma estratégia que se abre à sociedade, feita a partir do nosso próprio quotidiano, tornando-se mais acessível e democrática. Desde a sua fundação, a UNESCO tem procurado alcançar o desenvolvimento e a paz através do conhecimento científico e da ciência produzida, colocando-a ao serviço de todos, no pressuposto de contribuir para a resolução dos problemas reais das sociedades, tornando-as mais informadas e conscientes e, por essa via, melhor preparadas para alcançar o desenvolvimento.
Já na segunda década deste século, a UNESCO formaliza a criação dos Geoparks Mundiais da UNESCO, definindo-os como territórios onde a educação, a cultura e a ciência convergem para construir um futuro mais sustentável. Então, porque se assumem os 161 Geoparks em todo o Mundo como territórios de ciência? A resposta a esta questão reside em dois pontos. Em primeiro lugar, os Geoparks são territórios com uma geologia ímpar, que pelo seu valor se assumem como um legado comum de uma comunidade, ou seja, como Património. Neste contexto, uma das formas de perpetuar o seu valor e de contribuir para a sua preservação é através do conhecimento que se tem destes recursos, recorrendo à ciência para nos ajudar a compreender aquilo que os nossos olhos alcançam e as formas que as rochas e a paisagem assumem. Em segundo lugar, estes territórios, pelas suas características e pelo valor do seu património, são verdadeiros laboratórios a “céu aberto”, onde cientistas, estudantes, professores e cidadãos podem contribuir para o aprofundamento do conhecimento do próprio território, investigando e produzindo conhecimento em várias áreas, como a geologia, a biologia, geografia, climatologia, ambiente, sociedade, paisagem, entre tantas outras. A afirmação dos Geoparks como laboratórios vivos aproxima, de uma forma efetiva, a ciência das populações, tornando estas últimas, atores do conhecimento, criando novas visões que nos levam para a ciência cidadã ou para a ciência aberta.
O Estrela UNESCO Global Geopark, um dos 15 novos Geoparks classificados em 2020, tem procurado dar especial destaque a esta realidade, afirmando-se como um verdadeiro território de ciência, lugar que os Geoparks devem ocupar, enquanto estratégia e condição essencial para alcançarem o principal objetivo que levou à sua classificação, o Desenvolvimento Sustentável. Neste sentido, muito antes da sua classificação, o Estrela Geopark tem apostado claramente na ciência e no conhecimento científico, relacionando-o com a educação e transformando a Estrela num verdadeiro laboratório. Na verdade, a serra da Estrela apresenta características únicas para os estudos de várias áreas científicas. Porém, a ciência produzida nestes territórios deve ser feita com a participação das populações (ciência cidadã), colocando-a ao serviço dos seus problemas e disponibilizando os resultados de uma forma aberta e acessível. Prova disto é o trabalho desenvolvido em torno dos incêndios florestais, das alterações climáticas, do património geológico, da geoconservação, entre muitos outros estudos.
Conscientes do valor da ciência e da sua importância, o Estrela Geopark criou, em 2019, a Rede de Ciência e Educação para a Sustentabilidade, cujo principal objetivo é o fomento do conhecimento da Estrela, nas diversas áreas disciplinares. Os próximos quatro anos constituem um desafio para este território e para este Geopark UNESCO, colocar a ciência como alicerce do desenvolvimento da serra da Estrela, envolvendo as suas populações e criando redes de conhecimento, que fazem deste um laboratório com 2.216 quilómetros quadrados!
N.R.: Esta é uma colaboração mensal do Geopark Estrela para divulgar o seu património e atividades relevantes para a sua afirmação. Os textos e fotografias são da responsabilidade da equipa técnica do Geopark.