Cara a Cara

«Ainda não há um espaço para o Museu dos Jogos Tradicionais»

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Escrito por Efigénia Marques

P – Quais são os principais objetivos para o mandato que agora inicia?
R – Neste mandato estamos juntos e motivados para concretizar ambições. Queremos reforçar a ênfase na intergeracionalidade que temos vindo a trabalhar de forma mais sistematizada desde 2021 e para a qual temos chamado a atenção e queremos continuar a chamar. Estamos empenhados na envolvência das pessoas seja na participação nas atividades, seja na prática, seja na ação associativa, queremos ser verdadeiramente os que animam – dão alma à prática lúdica tradicional. Neste mandato queremos também dedicar-nos à organização através da sistematização e disponibilidade dos nossos conteúdos, sejam livros, vídeos ou fotografias. Neste contexto, desejamos concretizar projetos como a edição das crónicas publicadas por Norberto Gonçalves; organizar e publicar o “Levantamento do Culto Privado das Almas do concelho da Guarda”; reforçar as nossas parcerias internacionais e, em especial, ibéricas; desenvolver as nossas propostas para a intergeracionalidade e, claro, o Museu do Jogo. Haja pessoas, vontade e colaboração que projetos nunca nos faltaram e não nos faltam.

P – Como está a adesão de novos membros e quantas pessoas estão envolvidas na Associação de Jogos Tradicionais da Guarda?
R – Nos últimos anos a AJTG tem tido maior envolvimento e são cada vez mais pessoas que se aproximam da Associação e com ela querem colaborar das mais diversas formas. Temos sentido que as comunidades onde desenvolvemos a nossa ação reconhecem o nosso esforço, reveem-se nas nossas causas e nos acarinham. Mas a crise do associativismo e do voluntariado é uma realidade que também é nossa. São poucos os que sacrificam a vida pessoal (e por vezes profissional) para se dedicarem a causas coletivas e o associativismo é cada vez mais exigente em termos de gestão administrativa, financeira, de comunicação e promoção. Mas também é preciso lembrar que dá benefícios únicos, que constroem comunidades mais evoluídas e tornam pessoas melhores e mais capazes – união, cooperação, solidariedade, partilha são alguns dos benefícios que o associativismo e o voluntariado podem dar.

P – Como está o projeto do Museu de Jogos Tradicionais?
R – Um espaço museológico é sempre um projeto complexo porque, além do espólio físico, também se quer expor todo um espólio imaterial que a AJTG tem e que passa pela continuidade em termos de levantamentos e estudos que envolve a investigação, mas também pela prática lúdica que envolve espaço físico próprio. Portanto, mais do que um museu, estamos cada vez mais convictos que o que faz sentido é um Observatório das Tradições, onde as exposições materiais ou imateriais dos jogos tradicionais partilhem espaços com oficinas de fabrico e manutenção de materiais de jogo; com espaços para artesãos que trabalham com produtos endógenos, nomeadamente cestaria, têxteis… ; e também com a investigação e a partilha de experiências e conhecimentos em áreas como a antropologia, a sociologia e o desporto, mas também economia e turismo. É esta ideia que temos estado a apresentar às instituições que integram e lideram este território, mas até agora é com alguma tristeza que assumo que ainda não se conseguiu o essencial – a definição de um espaço. E ainda que todos tenhamos a convicção que o projeto é uma mais-valia para a diferenciação deste território e que no atual quadro económico europeu seria um projeto muito reconhecido, a verdade é que até hoje ainda não há sequer um espaço que possa ser alvo de uma candidatura. E tenho que reforçar que a AJTG é uma associação de utilidade pública que conta com pessoas altruístas e voluntariosas que dão o seu tempo e saber e que precisa de apoio para concretizar os seus projetos diferenciadores – apoio financeiro, mas também de recursos e até de conhecimentos técnicos.

P – Qual é o contributo da associação para a cidade da Guarda?
R – Seja pela sua capacidade organizativa, pelo seu objeto de defesa e promoção, pela sua fé na atividade desenvolvida, desde cedo que a AJTG se impôs no plano nacional como sendo uma instituição credível e dinâmica e ao longo dos anos afirmou-se como uma referência no concelho, no distrito, no país e também além-fronteiras. Com estatuto de utilidade pública, o contributo da AJTG para a Guarda é plural – promoção cultural quando, através de nós, se ficam a conhecer patrimónios materiais e imateriais; reforço da identidade porque através dos jogos tradicionais também se desenvolvem as nossas heranças e se reforça o autoconhecimento comunitário; promoção turística quando connosco sempre levamos a nossa Guarda, através de produtos locais e da informação que se veicula, mas também quando através da AJTG as pessoas vêm à Guarda ou conhecem a Guarda.

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Elsa Fernandes

Presidente da direção da Associação de Jogos Tradicionais da Guarda

Idade: 55 anos

Profissão: Formadora e consultora de empresas

Naturalidade: Guarda

Currículo (resumido): Licenciada em Relações Públicas com pós-graduação em Marketing de Eventos e Produtos Turísticos; Técnica de Marketing; Consultora externa de diversas instituições regionais e nacionais; formadora e coordenadora pedagógica do IEFP; Formadora e consultora nas áreas da Comunicação, Design, Marketing Político, Marketing Turístico; Docente do ensino superior em disciplinas de Comunicação e Relações Públicas; Faz e fez parte dos corpos sociais de diversas associações com destaque para a Associação de Jogos Tradicionais da Guarda, Grupo de Amigos do Museu da Guarda (sócia fundadora) e a Associação La Tanguilla – Espanha (sócia honorífica); Colaboradora da Rádio F desde 2019 e da Rádio Altitude desde 2008 (com interrupções cronológicas)

Livro preferido: “O Processo”, “O Principezinho” e “O Livro do Desassossego”

Filme preferido: “Casablanca”, “Os Pássaros” e “A Vida de Brian”

Hobbies: Ler, escrever, manualidades, crochet, caminhar e apreciar a natureza.

Sobre o autor

Efigénia Marques

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