Cara a Cara

«O objetivo do Move Beiras é dar e trazer cultura, não é só propriamente o comboio»

Filipe Santos
Escrito por Efigénia Marques

P – Como surgiu esta associação e o que esteve na origem da sua criação?
R – A Associação Move Beiras foi criada há dois anos após a reabertura da linha da Beira Baixa entre a Covilhã e a Guarda, que faz três anos a 2 de maio. O nosso objetivo é promover as localidades e os territórios por onde estas linhas ferroviárias passam, não só a Beira Baixa, mas também a Beira Alta quando reabrir. Como o próprio nome indica, é nossa intenção mover as Beiras e promovermos as populações todas, porque juntos somos mais fortes e, como somos poucos no interior, quantos mais formos melhor. Na Benespera há uma grande ligação com a estação, pois a partir do momento em que num ano 100 pessoas vão num comboio à Guarda meramente por diversão, porque era o primeiro dia, e que enfeitam a estação no Natal como enfeitam a sua casa, porque fazem questão de receber bem as pessoas, e percebemos que podíamos fazer algo de diferente pela nossa terra e por outras que podem ser esquecidas.

P – Acha que as atividades da associação têm tido impacto na população e na promoção da Linha da Beira Baixa?
R – A mim parece-me que o impacto nestes dois anos é muito positivo. A partir do momento em que fazemos atividade e elas enchem, isso é ótimo. No 25 de Abril, por exemplo, demos cravos nos cais das estações e apeadeiros da linha, onde impactámos pelo menos 500 pessoas, e quando falamos de uma ação que alcança, pelo menos, 500 pessoas estamos a falar de num ano impactarmos pelo menos cerca de 2.000 a 3.000 pessoas, então sentimos que realmente estamos a fazer algo diferenciador para a população das Beiras. Temos várias viagens onde vão famílias inteiras e pessoas que, por exemplo, nunca saíram da nossa zona ou foram a Lisboa. O objetivo do Move Beiras é dar e trazer cultura, não é só propriamente o comboio, mas o que ele pode promover e dar à população.

P – Quais têm sido os vossos eventos de maior destaque? Têm tido uma boa adesão da população e colaboração das autarquias?
R – Já fizemos uma viagem ao Museu Nacional Ferroviário e outra ao Jardim Zoológico. Estamos a promover outra para Lisboa, sendo que na última viagem alugámos dois comboios com 500 pessoas e entrou gente desde a Guarda a Castelo Branco. Mas o objetivo não é só as viagens, pois já tivemos interações com o Politécnico da Guarda numas jornadas técnicas e também fizemos uma parceria com Universidade da Beira Interior, denominada “Ciência a Bordo”, onde demos aulas dentro de comboios. Fomos também os primeiros e únicos a realizar um concerto no troço Covilhã-Guarda, em que a Banda da Covilhã tocou para um comboio que abarrotou de pessoas. Também fazemos questão de trabalhar em equipa e convidamos sempre as associações locais, as Juntas de Freguesia, as próprias Câmaras e sem dúvida que o que nos tem ajudado a promover os eventos é este trabalho com as diversas entidades.

P – Que planos têm para o futuro?
R – Neste momento temos uma parceria com uma exposição fotográfica, a “We Love Trains”, que já passou pela Guarda, Belmonte, Covilhã e que este fim de semana vai estar na Benespera. Vamos também ter uma caminhada nos Passadiços do Mondego e o nosso objetivo é conseguimos impactar cada vez mais as nossas populações e podermos criar e termos estas atividades nos diversos sítios das linhas ferroviárias para promovermos as populações porque, na realidade, só as pessoas de cada terra é que conhecem e têm a melhor maneira de promover as suas localidades.

P – Estando a associação ligada à Linha da Beira Baixa, qual é a importância desta ligação ferroviária?
R – A reabertura em si é muito importante, pois estamos a falar de 12 anos em que o comboio não passou nesta linha. É um serviço com paragens provisórias, então é necessário provarmos que precisamos deste serviço e uma das coisas pelas quais batalhamos sempre é que não podemos comparar este serviço à linha de Cascais ou de Sintra, pois aqui o uso do comboio será sempre inferior, mas é na mesma essencial. Não só pelo aspeto social, como também devido ao problema da desertificação e da boa coesão territorial. As populações têm que perceber que temos que lutar para que ele exista e que o comboio pare nas estações. Há várias melhorias a serem feitas, há cerca de um ano tivemos uma reunião com os deputados eleitos pela Guarda e Castelo Branco e com o secretário de Estado do Turismo e acho que isso demonstra que o Governo estava interessado neste serviço, que muitos anos esteve perdido, em ouvir-nos e em perceber as nossas preocupações, porque só assim é que conseguem perceber como podem melhorar a linha. E também é uma prova que esta associação está a fazer algo diferenciador pelas Beiras e não é mais uma: podemos de facto dar voz à população.

________________________________________________________________________

FELIPE SANTOS

Fundador da Associação Move Beiras

Idade: 30 anos

Profissão: Técnico superior financeiro

Naturalidade: Benespera

Currículo (resumido): Licenciatura em Contabilidade no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa (ISCAL) e mestrado em Contabilidade, Fiscalidade e Finanças Empresariais no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG)

Livro preferido: Não tem

Filme preferido: Não tem

Hobbies: Fotografar e passear com amigos

Sobre o autor

Efigénia Marques

Leave a Reply