De vez em quando há que regressar ao tema do estacionamento, nem que seja para que não se pense que está toda a gente satisfeita com a situação no centro da cidade da Guarda. Eu, pelo que me toca, estou muito insatisfeito e há muitos anos.
Protestei sobre o assunto neste jornal contra a administração camarária anterior e contra as anteriores até pelo menos Maria do Carmo Borges. Só não protestei contra a política de estacionamento do Abílio Curto porque já não era presidente da Câmara quando este jornal se começou a publicar, mas teria uma ou duas coisas a dizer sobre a opção de não aproveitado a construção dos novos Paços do Concelho para criar um estacionamento subterrâneo público no centro da cidade.
É verdade que há, nas duas pontas da cidade, estacionamento disponível e com fartura no Teatro Municipal e no centro comercial La Vie, mas o grosso dos serviços e instituições concentram-se bem longe. Onde trabalho, estou a cerca de 500 metros de um e outro e pelo menos no Inverno (que na Guarda dura meio ano) tenho de me contentar com os lugares disponíveis na rua. O problema destes é que o estacionamento está limitado a duas horas e não há opção de prolongamento sem ir ao sítio, tirar o carro para outro lugar (pôr mais uma moeda é infringir a limitação de duas horas) e colocar nova moeda. Isto é: todo o centro da cidade está pensado como estacionamento de curto prazo e não há solução pensada para quem tenha de ficar cá em cima todo o dia.
Noutras cidades aderiu-se ao Via Verde Estacionamento ou criaram-se soluções próprias, como fez a EMEL. Há uma aplicação para telemóvel que aproveita o GPS e assegura o prolongamento do estacionamento mesmo à distância e pelo tempo estritamente necessário. Mas na Guarda não, aqui continuamos decididamente no século XX.
Noutras cidades aproveitam-se ou adaptam-se todos os espaços disponíveis para estacionamento subterrâneo, mas na Guarda não: fazem-se estudos para justificar porque não pode ser aqui, ou ali, ou conclui-se que não há dinheiro para investir na resolução do problema porque, entretanto, se gastou todo o que havia em festas e embelezamento de rotundas (e não falemos da fatura da água).
O financiamento nem deveria ser um grande problema, uma vez que há muitas soluções disponíveis que poderiam até, a médio ou longo prazo, trazer lucro. Em vez de encontrar uma solução, a Câmara tem eliminado lugares de estacionamento e os poucos que foram criados estão tão distantes dos sítios em que são precisos que não servem para nada. Entretanto, a PSP castiga os condutores com interpretações da lei como esta: numa rua de sentido único deve estacionar-se o mais perto possível do lado mais à direita da faixa de rodagem, o que exclui o estacionamento do lado esquerdo mesmo que não prejudique o trânsito – e toca de multar. Quando se lembrarem de fiscalizar as ruas dos bairros periféricos vai ser bonito!
A situação é em resumo esta: vivemos numa capital de distrito que, ao contrário, por exemplo, de Viseu e Castelo Branco, não tem soluções de estacionamento de longo prazo no centro da cidade, em que os cidadãos foram empurrados para a periferia da cidade para viver mas que continuam a trabalhar no centro para onde têm de se deslocar de carro e onde passam a vida a fugir à polícia. Da próxima vez que virem gastar dinheiro a enfeitar rotundas pensem nisto.
Nova crónica do estacionamento
“Em vez de encontrar uma solução, a Câmara tem eliminado lugares de estacionamento e os poucos que foram criados estão tão distantes dos sítios em que são precisos que não servem para nada.”