Nova crónica do estacionamento

Escrito por António Ferreira

“Em vez de encontrar uma solução, a Câmara tem eliminado lugares de estacionamento e os poucos que foram criados estão tão distantes dos sítios em que são precisos que não servem para nada.”

De vez em quando há que regressar ao tema do estacionamento, nem que seja para que não se pense que está toda a gente satisfeita com a situação no centro da cidade da Guarda. Eu, pelo que me toca, estou muito insatisfeito e há muitos anos.
Protestei sobre o assunto neste jornal contra a administração camarária anterior e contra as anteriores até pelo menos Maria do Carmo Borges. Só não protestei contra a política de estacionamento do Abílio Curto porque já não era presidente da Câmara quando este jornal se começou a publicar, mas teria uma ou duas coisas a dizer sobre a opção de não aproveitado a construção dos novos Paços do Concelho para criar um estacionamento subterrâneo público no centro da cidade.
É verdade que há, nas duas pontas da cidade, estacionamento disponível e com fartura no Teatro Municipal e no centro comercial La Vie, mas o grosso dos serviços e instituições concentram-se bem longe. Onde trabalho, estou a cerca de 500 metros de um e outro e pelo menos no Inverno (que na Guarda dura meio ano) tenho de me contentar com os lugares disponíveis na rua. O problema destes é que o estacionamento está limitado a duas horas e não há opção de prolongamento sem ir ao sítio, tirar o carro para outro lugar (pôr mais uma moeda é infringir a limitação de duas horas) e colocar nova moeda. Isto é: todo o centro da cidade está pensado como estacionamento de curto prazo e não há solução pensada para quem tenha de ficar cá em cima todo o dia.
Noutras cidades aderiu-se ao Via Verde Estacionamento ou criaram-se soluções próprias, como fez a EMEL. Há uma aplicação para telemóvel que aproveita o GPS e assegura o prolongamento do estacionamento mesmo à distância e pelo tempo estritamente necessário. Mas na Guarda não, aqui continuamos decididamente no século XX.
Noutras cidades aproveitam-se ou adaptam-se todos os espaços disponíveis para estacionamento subterrâneo, mas na Guarda não: fazem-se estudos para justificar porque não pode ser aqui, ou ali, ou conclui-se que não há dinheiro para investir na resolução do problema porque, entretanto, se gastou todo o que havia em festas e embelezamento de rotundas (e não falemos da fatura da água).
O financiamento nem deveria ser um grande problema, uma vez que há muitas soluções disponíveis que poderiam até, a médio ou longo prazo, trazer lucro. Em vez de encontrar uma solução, a Câmara tem eliminado lugares de estacionamento e os poucos que foram criados estão tão distantes dos sítios em que são precisos que não servem para nada. Entretanto, a PSP castiga os condutores com interpretações da lei como esta: numa rua de sentido único deve estacionar-se o mais perto possível do lado mais à direita da faixa de rodagem, o que exclui o estacionamento do lado esquerdo mesmo que não prejudique o trânsito – e toca de multar. Quando se lembrarem de fiscalizar as ruas dos bairros periféricos vai ser bonito!
A situação é em resumo esta: vivemos numa capital de distrito que, ao contrário, por exemplo, de Viseu e Castelo Branco, não tem soluções de estacionamento de longo prazo no centro da cidade, em que os cidadãos foram empurrados para a periferia da cidade para viver mas que continuam a trabalhar no centro para onde têm de se deslocar de carro e onde passam a vida a fugir à polícia. Da próxima vez que virem gastar dinheiro a enfeitar rotundas pensem nisto.

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António Ferreira

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