O facto de um distrito ter alguns dos seus políticos eleitos em órgãos de poder não assegura, só por si, níveis acrescidos de investimento público no seu território e de desenvolvimento regional. Que o diga o distrito da Guarda, que em tempos já teve bem maior representatividade do que hoje tem e não foi por isso que deu um salto. Uma coisa é certa: Se a fusão do eleito com a sua terra pode não trazer especiais vantagens, o divórcio entre ambos traz de certeza desvantagens.
É difícil não acreditar que quanto menor for o número de “guardenses” nas várias dimensões decisórias, maior é a probabilidade do distrito dar um salto, mas para o esquecimento e para a irrelevância. Ora, a conjuntura atual é das piores de sempre e não pode deixar ninguém satisfeito ou esperançado. No Governo não há um único ministro ou secretário de Estado destas bandas, o que não é bom augúrio. Na Assembleia da República, a deputada eleita pelo PS não é de cá nem vive cá e o eleito pelo CHEGA também não. Só a AD teve o cuidado de indicar e a oportunidade de eleger uma cabeça de lista local, e é só a ela a quem o povo da Guarda pode verdadeiramente “pedir contas”, já que mais não seja porque vai cá ao supermercado, anda na rua e pode ser confrontada. É pouco, muito pouco, para quem precisa de muito. Todos juraram servir o distrito, mas nem todos o sentem da mesma maneira, e isto só pode agravar tanta assimetria de tantos anos de centralismo e de “litoralismo”.
Se a influência da Guarda no país está pelas ruas da amargura, além-fronteiras está no seu grau zero. Nas listas dos partidos que podem eleger deputados para o Parlamento Europeu, nenhum daqueles que a partir de junho se sentará em Bruxelas tem raízes no nosso distrito. O PS ignorou-nos. O CHEGA foi atrás. A AD deu-nos um desonroso 19º lugar. Os outros também acharam (se não me engano) que as melhores opções eram candidatos de outras geografias. Estamos à mingua e se há algo que estes 50 anos de abril assinalam bem é o falhanço total nas preocupações de coesão territorial, que nada nem ninguém dá mostras de querer inverter. Não sei se por estas e/ou por outras, nas eleições autárquicas os eleitores da capital de distrito parecem ter-se fartado dos partidos e escolheram uma candidatura “independente”. O ganho que esta aposta teve ainda está por demonstrar, como confessou o presidente da Câmara no seu discurso do 25 de Abril, ao responsabilizar o governo nacional por alguns insucessos ou “inconseguimentos” que expressou.
E é também com esta “entorse” com que nos deparamos. Os independentes não são “carne nem peixe” e um qualquer governante ou partido mal preparado que esteja conjunturalmente no Terreiro do Paço e que ache que deve dar sempre dar mais “aos seus aficionados” do que aos outros (e não é raro encontrá-los), coloca a Guarda numa nuvem ainda mais negra. Daí que num país como Portugal, que está viciado, que ainda não é adulto e tem enormes tiques de provincianismo ao não olhar o seu território como um todo, talvez só a concretização da frase que Sá Carneiro celebrizou no seu projeto de poder quando quis eleger Soares Carneiro como Presidente da Républica possa minimizar os estragos. A frase, que era um desejo e que pode ser adaptada a outros patamares de poder, aqui incluindo o autárquico, é a seguinte: «Uma maioria, um Governo e um Presidente». Se esta trilogia, a acontecer, deixar tudo como está – o que é possível – então o melhor é que venha o último e que apague a luz, pois a seguir o caminho será o desastre e o melhor é mesmo não vermos onde vamos bater.
Nota: O jornal O INTERIOR merece novas reflexões e abordagens. As minhas já duram há mais de três anos, pelo que chegou o momento da minha pausa. Resta-me agradecer à direção do jornal a oportunidade que me deu, na certeza de quem vier a seguir fará de todos os leitores pessoas melhor informadas.
* Advogado e presidente da Assembleia Distrital do PSD da Guarda