Ruralização inteligente: o regresso à terra

Escrito por Pedro Fonseca

“Apoiar a aquisição e a recuperação de casas localizadas em aldeias para a finalidade de habitação permanente e reduzir o preço dos transportes públicos que asseguram a ligação entre as aldeias e os meios urbanos seriam duas medidas bem-vindas.”

Desde a Revolução Industrial que se iniciou uma migração constante de pessoas das zonas rurais para as zonas urbanas. Mas por aqui a industrialização nunca pegou a fundo. Foi preciso esperar pelo “boom” do setor dos serviços, a partir da segunda metade do século XX, para que o nosso país também enveredasse pela moda do estilo de vida citadino.
A pouco e pouco, as aldeias foram sendo esvaziadas de gente e, na década de 1990, as televisões nacionais começaram a emitir as primeiras notícias de “aldeias fantasmas” em Portugal. A tendência mantém-se nos nossos dias e um estudo europeu recente indica que, por 2050, mais de 83% dos cidadãos da União Europeia viverão em meios urbanos. Se a esta previsão adicionarmos a do declínio da natalidade e a do crescente envelhecimento da população, o cenário para o mundo rural fica tudo menos animador.
Mas para o mundo urbano o futuro também não se afigura auspicioso, pois todos sabemos a quantidade e a seriedade dos problemas que afetam as grandes cidades, a começar no acesso à habitação e a terminar nos transportes, passando pela escassez de espaços verdes, pelos diferentes tipos de poluição e pelo predomínio da impessoalidade.
Se é certo que a maioria continua a encontrar nos meios urbanos o modo de vida que ambiciona, também é verdade que está em franco crescimento o número de pessoas que prefere o estilo de vida rural ao citadino. Na aldeia é possível desfrutar de um meio envolvente mais tranquilo, um contacto mais próximo com a natureza, um relacionamento mais pessoal com os vizinhos e, nalguns casos, até a possibilidade de concretizar o sonho de regressar às raízes.
O mundo pós-pandémico trouxe consigo a normalização do teletrabalho e do trabalho em regime híbrido para muitas profissões. São também vários os municípios que têm apostado em sistemas de mobilidade mais eficientes para ligarem as localidades rurais às capitais de concelho e ainda há muitas aldeias que continuam a beneficiar de ligações ferroviárias à urbe.
Seja como for, se a vontade política passar por tentar equilibrar a balança populacional entre os meios urbano e rural, há ainda um longo caminho a percorrer. Felizmente podemos tomar a experiência de outros países europeus como inspiração, identificando e adequando boas práticas e apostando em soluções originais e inovadoras.
Apoiar a aquisição e a recuperação de casas localizadas em aldeias para a finalidade de habitação permanente e reduzir o preço dos transportes públicos que asseguram a ligação entre as aldeias e os meios urbanos seriam duas medidas bem-vindas. Outras duas seriam a criação de uma rede nacional de espaços de “coworking” no mundo rural e a atribuição de incentivos financeiros e fiscais para a criação ou a deslocalização de empresas e outras entidades empregadoras para meios rurais. Com o apoio de instituições de ensino superior e de centros de investigação, poderia avançar-se até para o estabelecimento de incubadoras e aceleradoras de empresas ligadas aos setores agrícola e florestal, sem esquecer obviamente a implementação de projetos turísticos diferenciadores.

* pedrorgfonseca@gmail.com

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Pedro Fonseca

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