A Educação é um dos temas mais difíceis de comentar, nestes tempos de pandemia. Mas falar dela é da maior urgência e importância. E não é apenas porque a escola é a única forma de contribuir para o elevador social e permitir que as crianças originárias de meios mais pobres e difíceis possam almejar a ter uma vida melhor, é porque as crianças, os homens de amanhã, a sociedade, o país, não podem permitir-se a continuar a adiar o regresso à escola. É na escola que se aprende, e se aprende de tudo. É na escola que se adquire conhecimento e competências.
Por isso, quando ouvimos o primeiro-ministro e o ministro da Educação explicarem no início de abril que até setembro um milhão de crianças vão ficar metidas em casa, e com elas os pais, a ter aulas à distância, devíamos ficar perturbados. Citando Carlos Drummond de Andrade, «se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem». Porque a escola não é apenas ensinar. A escola é aprender. É aprender de tudo, a ler e a escrever, mas também a conviver, a brincar, a partilhar… (e é conveniente ver que os países que estão a combater a pandemia com sucesso vão reabrir as creches e as escolas já – da República Checa à Austria, da Dinamarca à Noruega…).
Um mês depois do recolhimento obrigatório por causa do Covid-19, e com a pandemia razoavelmente estabilizada (depois do confinamento dos cidadãos), é tempo de promover a normalização social e o regresso da escola é obrigatório (como da economia). Como escreveu João Miguel Tavares (com quem muitas vezes não concordo), foi difícil reter as pessoas em casa e agora não querem sair de casa, por isso, vivemos um pânico social desproporcionado e os professores, legitimamente assustados, não querem regressar às escolas sem as chamadas garantias de segurança, que não vão voltar a existir – ainda não foi descoberta uma vacina e quando houver vai demorar mais de um ano até à vacinação generalizada, ou seja, na melhor das hipóteses, vamos passar dois anos à espera (fechados em casa?).
Mais de um milhão de crianças sem escola durante os próximos meses será um desastre. O crescimento diário das infeções com o novo coronavírus estabilizou abaixo dos cinco por cento e sabemos que vamos ter de aprender a conviver com a pandemia, com cuidados higiénicos reforçados, com distanciamento social, com espaço e algum recolhimento. E com o regresso das crianças à escola. Talvez em menos horas, talvez menos dias, talvez com menos alunos por sala, talvez deixando de fora os professores que pela idade ou por saúde estejam mais expostos ao novo coronavírus. O ano letivo não pode acabar assim, com telescola ou via digital. O Verão é muito longo e os professores têm de aceder em dar aulas no período previsto para férias (que não vai haver), em junho e julho… Não queremos uma escola digital, queremos uma escola com professores.
A aposta no novo modelo de telescola (conheço apenas um caso de sucesso entre os milhares de alunos que fizeram a escola a olhar para a televisão…) ou o envio de emails com exercícios ou disponibilização de documentos e informação letiva no moodle ou em outras plataformas não substituem as explicações e ensino dos professores.
Neste tempo que José Gil chama de «subjetividade digital», em que o mundo se fechou sobre si mesmo e as pessoas passaram a ter medo de sair à rua, em que a Internet e as aplicações nos facilitam a vida, não devemos querer que as crianças aprendam por videoconferência, queremos que as crianças aprendam com os mestres. Não podemos aceitar que as aulas à distância sejam o modelo de ensino do futuro. Quando todos dizem que nada será como dantes, devemos querer que a escola regresse e seja como sempre.
PS: O jornal O INTERIOR apresenta as mais sentidas condolências à família de Laurindo Prata, que foi um homem de grande categoria, um empresário de mérito reconhecido e uma personalidade de referência em toda a região.