As misericórdias, os lares e os testes positivos

Escrito por Diogo Cabrita

A política do “testar, testar, testar” que agora se realiza pretende alcançar um objetivo específico: saber quantos estão infetados e onde. Certo. Para quê? Por razões científicas? Com certeza. Tem influência no tratamento? Tem importância nas opções a tomar? Não! Testar idosos sãos que estão em lares onde há infetados tem encaminhamentos diferentes? Até agora temos visto uma insana transferência de idosos para hospitais militares e hospitais onde os recursos se gastam em salas de positivos sem doença major. Como escrevi num “guia prático para os que tossem e panicosos” não há nada a fazer nos doentes positivos com doença ligeira, ou sintomas que não sejam controláveis com medicação básica.
Dores musculares, tosse, febre, dor de cabeça resolvem-se com paracetamol (ben-u-ron) 500 cada 6 horas intercalado com outro fármaco como aspirina, nimed, nolotil. Não sugiro ibuprofeno (brufen) para não cair em outras controvérsias.
As Misericórdias que têm provedores ignorantes, incapazes da sua função, resolveram soltar os chacais e “salvar os seus lares dos infetados”. Andam a fazer suas declarações de virgem ofendida nos telejornais. Tão discretos que eram e agora tão reivindicativos que estão. O Estado devia apoiar as instituições de proximidade com pessoas adequadas, levar a informação e o saber, mas nunca aceitar estas massivas transferências. A desresponsabilização é uma doença da sociedade contemporânea.
Concentrar idosos em instituições foi uma outra doença da contemporaneidade e revela-se agora como o óbvio – locais de transmissão brutal de doenças. O egoísmo é outra doença associada ao medo. Medo só tenho o meu! Dor só tenho a minha! Afastar os velhos com testes positivos é uma declaração de incompetência das instituições. Já sabíamos reconhecer as boas das más instituições no programa Alert – as que enviam cada minudência e as que cuidam os seus problemas. Mas sempre foi mais fácil pagar a quem nos faz a vontade, ao primo da mulher, ao cunhado da tia.
Devemos transferir para quem mais sabe os que estão mais doentes. Os outros cuidamos como se fossem positivos. Os lares e IPSS pagaram salários a médicos bons e maus e agora vão perceber a diferença de terem os melhores e não os absentistas, os “transferidores”, os alarmistas. Sim porque entre os médicos também há de tudo.

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Diogo Cabrita

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