1. A nível nacional, ao olharmos para o ano que agora termina, temos que relevar a inusitada e surpreendente crise política que emergiu em Portugal com a demissão de António Costa.
Há um ano, precisamente há um ano, a 29 de dezembro de 2022, o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, demitiu-se, assumindo a responsabilidade política da autorização do pagamento de uma indeminização de meio milhão de euros a Alexandra Reis (quando esta deixou a administração da TAP). Mas só três semanas depois reconheceu, em comunicado, que autorizou, por Whatsapp, o pagamento dessa indemnização.
Então, o governo tinha maioria absoluta e, apesar dos muitos “casos e casinhos”, parecia impossível que o poder socialista pudesse ser posto em causa. Passado um ano… António Costa demitiu-se (e não foi apenas por causa do famoso parágrafo do Ministério Público), antecipando-se por horas ao vexame das buscas ao Palácio de S. Bento, onde foram encontrados 75.880 euros em envelopes escondidos entre livros e caixas de vinho; o PS teve eleições internas e Pedro Nuno Santos é o novo secretário-geral do partido – há um ano, após a demissão do então ministro das Infraestruturas, e mesmo considerando a enorme ambição e apoio das bases, seria inimaginável que tudo isto acontecesse assim: um governo com maioria absoluta exonerado e o ministro destituído entre tantas polémicas pudesse agora ser o secretário-geral do PS e principal candidato (com Luís Montenegro) a ganhar as próximas eleições legislativas.
Mas o ano de 2023 surpreendeu politicamente por muitas outras razões. Foi o ano em que a rua voltou a ser o palco de todas as manifestações (como há anos não se via). Um ano em que os professores endureceram a luta e muitas outra classes profissionais não calaram a contestação. Mas foi na saúde que os problemas foram mais visíveis, com o SNS a colapsar perante as dificuldades em muitas especialidades: a recusa em trabalhar mais horas extraordinárias promoveu um drama na saúde por todo o país. E se a crise política foi a circunstância mais relevante do ano, as dificuldades na saúde são o grande problema do ano para os portugueses. De um momento para o outro vimos como os médicos controlam o SNS e, em nome do dinheiro, não se importam de fechar urgências dos hospitais – não é apenas o aumento de rendimento reclamado (um dos sindicatos exigiu aumentos de 30 por cento), é essencialmente o sistema assentar no pagamento de milhões em horas extra, muito acima das 150 previstas, e que as novas gerações de médicos não querem fazer porque há mais vida para além da Saúde ou do trabalho. A 1 de janeiro o relógio de horas volta a zero, mas o problema foi só adiado…
2. A nível regional, em 2023, o turismo começou na Guarda com uma grande aposta: a inauguração dos Passadiços do Mondego. Projeto “inventado” por Álvaro Amaro, obra lançada por Chaves Monteiro, estrutura inaugurada por Sérgio Costa – com uma excelente promoção, e mesmo com algumas arestas para serem limadas, os Passadiços do Mondego são uma estrutura com grande interesse turístico e foi este ano a maior atração de forasteiros à região.
Numa zona com um excecional património natural e ambiental (a Serra da Estrela e toda a sua envolvente), com um património histórico e arquitetónico de referência, ainda que muitas vezes maltratado (dos castelos da raia ao Centro Histórico da Guarda votado ao abandono), os argumentos para atrair mais turistas também precisa de novas âncoras, e os Passadiços são mais uma. Mas a sustentabilidade em turismo precisa de mais argumentos. A Guarda precisa, por exemplo, com urgência das casas da Praça Velha recuperadas (uma vergonha adiada), precisa de recuperar o projeto do museu de arte contemporânea na antiga Casa da Legião (depois de uma consulta pública onde se deu preferência à demolição para fazer um parque de estacionamento) e de uma nova vida para S. Vicente (com a entrega de casas a estudantes, a artistas, a pessoas que possam levar vida ao centro histórico…). O resto do distrito está a fazer a sua parte: com o Museu do Côa à cabeça, na dinamização cultural e na afirmação como destino turístico de excelência.
E muito para além das tricas políticas (como o chumbo do orçamento municipal), a Guarda recebeu finalmente o Comando Nacional da Unidade de Emergência, Proteção e Socorro da GNR. Um investimento estruturante e que merece o aplauso a todos os que contribuíram para esta decisão histórica – a sua implementação é, não apenas o grande momento de 2023 na Guarda, mas poderá mesmo ser a metamorfose que a cidade precisava rumo a um novo futuro. Isto num ano em que o futuro do Hospital da Guarda está a ser posto em causa como nunca – há mesmo quem aceite de bom grado que o serviço de Urgências deixe de funcionar.