Os mentirosos lobos em Abril

Escrito por Albino Bárbara

“Vamos comemorar os 50 anos de Abril e em 74 foi-nos prometida uma sociedade mais livre, mais justa e mais fraterna.
50 anos depois afinal o que está em cima da mesa não é nada disso e a contestação, primeiro à esquerda e agora muito à direita, faz com que tenhamos de lidar com um autêntico escarro que entretanto a democracia cinquentenária permitiu parir. “

Escrevi esta crónica na passada segunda-feira, dia 1 de Abril, o convencionado dia de todas as mentiras e resolvi partilhar esta pequenina reflexão acerca do tema.
O povo na sua sábia sabedoria, diz, entre outras coisas, que a mentira tem perna curta e que mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo. Nietzsche escreveu «porque é que, na maior parte das vezes, os homens dizem a verdade? Certamente, não porque um deus proibiu de mentir, mas sim porque é mais cómodo, pois a mentira exige invenção, dissimulação e memória».
Saímos recentemente de uma campanha eleitoral onde foi visível a desfaçatez do pregão, da promessa falsa, do devaneio colbertista onde alguns collodies, sem se esquecerem do artesão Geppetto tudo fizeram para esconderem a penca descomunal, utilizando, para tanto, argumentos ardilosos a que Danton poderia perfeitamente alcunhar de charlatães ambiciosos.
Estes Eubulides, autointitulados contra sistema e que facilmente se percebe que querem ser os primeiros a aproveitarem-se dele, utilizando uma verborreia sem limites que determina um populismo imediatista, completamente irresponsável, usando a mentira civilizacional minóica o que faz deles os arautos Epiménides do sistema.
Entraram disfarçados de cordeiros e, a urbe, sem perceber ao que vinham, achou inicialmente graça a este travestido casalinho de lobos. O problema é que, tal qual como na história, os dois lobinhos foram-se reproduzindo e aí sim a cidade ficou preocupada.
Resultado: Para os afastar foi preciso recorrer não só aos ensinamentos de Crowley, mas sobretudo adotar uma outra e nova atitude que fez com que os decisores tivessem de deixar de olhar, única e exclusivamente, para o seu umbigo, onde estavam incluídos ordenados chorudos, benesses, famílias e um frenesim constante que os impedia de ver o apodrecido sistema que durante muito tempo nos foi lançando impostos, salários miseráveis, baixas pensões, ausência de respostas em vários setores, obrigando-nos a refletir num problema que se arrasta no tempo e tem barbas brancas: a existência de mais de dois milhões de pobres, uma constante desde os anos oitenta, que chega aos nossos dias e, curiosamente, ou talve’ não, nunca foi resolvido por governos de direita, centro ou esquerda. C’os diabos…. São mais de quarenta anos com esta constante. Vale a pena refletir. Vale a pena pensar nisto.
Vamos comemorar os 50 anos de Abril e em 74 foi-nos prometida uma sociedade mais livre, mais justa e mais fraterna.
50 anos depois afinal o que está em cima da mesa não é nada disso e a contestação, primeiro à esquerda e agora muito à direita, faz com que tenhamos de lidar com um autêntico escarro que entretanto a democracia cinquentenária permitiu parir.
Sinceramente não acredito que neste nosso cantinho à beira mar plantado haja mais de um milhão de fascistas, pois, sem ser adepto, de forma alguma, da tal teoria da conspiração ou de outra que determina o descontentamento latente, constatamos um número significativo de incautos, culturalmente vulneráveis a que temos obrigatoriamente de somar alguns saudosistas, outros tantos oportunistas, alguns bombistas, uma corja de reacionários ordinários e fascistas numa amálgama explosiva que pode gerar instabilidade durante algum tempo, sim… porque isto vai ter um tempo e depois aplicaremos com toda a certeza o principio físico da mistura temporária da água e o do azeite.
Pois, mas… enquanto vai o pau e não vai é absolutamente necessário estarmos atentos, despertos e permanentemente interessados não vá o diabo tecê-las e se daqui a uns dias o cravo vermelho ao peito a todos fica bem, sobretudo dá jeito a certos filhos da mãe, permito-me terminar a crónica de hoje com o aviso, que vem de longe do ano da revolução, onde Jorge de Sena alertava para todos os perigos que ameaçam a nossa ténue LIBERDADE:
“Muitos correm apressados. Querem ter-te só para ti e gritam esganados, só por todos cobiçados e não por amor a ti. Tens de saber que o inimigo quer matar-te à falsa fé. Tem cuidado contigo. Quem te respeita é um amigo. Quem não te respeita não é.
LIBERDADE, LIBERDADE, TEM CUIDADO QUE TE MATAM”.

Sobre o autor

Albino Bárbara

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