O compère é uma personagem central da revista à portuguesa, verdadeiro mestre de cerimónias que faz as delícias do seu fiel público.
É tal a sua importância que há já na política quem não resista à tentação da sua imitação. Em ambos casos os temas a caricaturar são cenas do dia-à-dia; ninguém escapa à critica mordaz, à piada fina…
Mas nem sempre um aprendiz de compère é um grande político, nem o inverso é verdadeiro. Também entre nós a moda parece que pegou. Brincar com temas e palavras, ser duro com os adversários, usar frases e ditados populares, nas meias verdades que todo o discurso integra, está encontrada a receita, que mantém a claque presa ao dixote seguinte. Vale tudo, desde que povo repare no brilho do orador. É esse o objetivo. Isso sim é fazer política. Ter uma voz que dê à Guarda a justiça que tarda.
Numa semana denuncia-se o caos e a tragédia no hospital para dias depois proclamar a pandemia como controlada, e defender a reabertura de postos da GNR; hoje o confinamento é exagerado, mas acusa de criminosa a incúria do Natal. O Tribunal Constitucional é legitimamente envolvido na eutanásia, mas já é força de bloqueio no que às portagens diz respeito.
É toda esta confusão, o baralhar temático, que dá beleza à revista e provoca o riso que descontrai. Por isso a revista é alegre e popular, o reino da pantomina. A política não existe para brincar e fazer rir, ou criar personagens mestres da chacota, mas para servir o interesse geral da população.
Na política não vale tudo. Pôr em causa a isenção e seriedade na gestão dos recursos e efetivos pela GNR é atrevimento que não tenho. Como é justificado o orgulho que sentimos pelo desempenho dos profissionais de saúde da Guarda no Covid-19. Um pouco mais de modéstia e de moderação não nos faziam nada mal.
A pandemia, para além de ser uma emergência de saúde pública, que obrigou o país e o mundo a respostas urgentes no plano sanitário, desencadeou uma retração generalizada da atividade produtiva, originando impactos sem precedentes e severas consequências de ordem económica e social à escala do planeta.
As medidas adotadas para controlar a doença em Portugal e na generalidade dos países europeus tiveram reflexos diretos no consumo das famílias e na atividade das empresas. O que conduziu ao lançamento de medidas extraordinárias, como apoio à liquidez e à salvaguarda dos postos de trabalho, evitando a baixa irreversível do emprego e capacidade produtiva, limitando a perda de rendimento das famílias.
Perante tão graves impactos da pandemia na economia europeia foi criado um instrumento comunitário estratégico de mitigação dos efeitos da crise a nível económico e social, onde se enquadra o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Em Portugal, o PRR é de aplicação nacional até 2026 e tem disponíveis 14 mil milhões de euros de subvenções e visa retomar o crescimento económico sustentado, reforçando o objetivo da convergência com a Europa ao longo da década20/30. E o caso não é para brincadeiras! Estão em risco famílias e empresas, a vida de muita gente.
Santinho Pacheco
Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda