Estou convicto de uma tristeza: a ignorância é cada dia maior. A vastidão dos conhecimentos construiu cidadãos insignes em peculiaridades, técnicos de habilidades especiais, gente com grande desenvoltura na sua profissão, mas sem qualquer abrangência ou mundividência. Milhares de jovens e adultos licenciados terão dificuldade em ler o que escrevo neste texto. Não conhecem a significância dos substantivos, não percebem o peso das palavras, os sinónimos e os antónimos. Por esta razão a capacidade de decidir sobre matérias simples está contida na experiência que carregam do berço, na exposição no trabalho, na vivência dos pequenos mundos onde foram realizando o seu percurso. Ausência de pilares sustentados em conceitos, ausência da sabedoria construída das dúvidas filosóficas, ausência de ideologia, ausência de aprendizagem estudada, nenhuma informação alicerçada em pensamento estruturado, permitiu que cidadãos básicos alcançassem lugares cimeiros e depois decidam apoiados na sua iliteracia e na sua ignorância. Não lhes sobram dúvidas, nem colocam questões. Esta massa de gente simpática, iletrada, excecional no seu particular, não percebe que o mundo é uma confluência de saberes, uma teia complexa de conhecimentos que se engrenam, penetram e produzem uma constelação.