Um fenómeno interessante da minha vida é perceber como nos focamos nos efeitos da visão.
– Tenho dores nas pernas, vejo lá varizes – a causa é das varizes! Pode não ser.
– Tenho uma gordura feia na região abdominal, tenho tido dores por aquela zona – tenho de tirar a gordura – mas pode ficar na mesma, digo eu.
Ninguém me liga nenhuma.
Veem que está ali aquilo – é porque é dali! Pode não ser – insisto.
– Tenho más digestões, fiz uma ecografia que mostra cálculos e lama – quero tirar a vesícula porque se calhar é de lá. Pode não ser, repito.
– Os nódulos da tiroide não são a causa de me engasgar? Não são de certeza – afirmo.
Mas não me dão atenção e procuram outros e acabam vencendo a minha relutância e lá vão felizes sem vesícula, sem tiroide, sem varizes.
Insisto em ir um pouco mais longe no estudo. As pernas podem doer por inúmeras razões, e apesar de serem várias, lá estão na pele as veias superficiais. É a coluna, ou os músculos, ou o joelho, ou coxa, mas o que se vê bem são aqueles derrames. É dos derrames! Eu sei!
Ah! Se você sabe quem sou eu para contrariar?
Chegou-me uma rouca (complicação de cirurgia à tiroide) e com dor de estômago, mas já viúva da vesícula, e com excesso de peso condicionando obstipação e cansaço nas pernas, atualmente mais leves por excisão de varizes.
– Eu tinha-lhe sugerido não operar nada disto.
– Sabe Dr., eu achava que era daquelas coisas e fui a pagar.
Ah, e quem sou eu para a contrariar ou dar opinião agora? O que acha que tem agora?
Um médico não deve rir, mas o destino da crença inculta é uma anedota! Diziam os antigos que a ignorância é atrevida e a sem vergonha cega!