Pareidolia(s)

Pareidolia – fenómeno psicológico comum em todos os seres humanos, conhecido por fazer as pessoas reconhecerem imagens de rostos humanos ou animais em objetos, sombras, formações de luzes e em qualquer outro estímulo visual aleatório.
Por generalização pura e simples o fenómeno que o título traduz bem poderia aplicar-se a duas situações “ouvistas” não há muito. A primeira aconteceu aquando da visita de um senhor secretário de Estado. Não se coibiu o dito governante de afirmar, ar solene e voz grossa, que os que por aqui teimamos em (sobre)viver deveríamos consumir mais energia de molde a justificar os investimentos feitos para a ela termos acesso. Não cabendo, de forma exata, na definição, e apesar disso, parece o senhor sofrer daquele fenómeno: anda a ver coisas que mais ninguém por aqui vê… Ou será publicidade encapotada?…
Assim à primeira vista, e sem gastar muito tempo a elaborar lista exaustiva, ocorrem-me algumas situações que, por mera analogia, o senhor secretário de Estado poderia também elencar e delas fazer pregão:
Também eu acho que, nas grandes cidades deste nosso cantinho, os utentes deveriam pagar mais pela utilização dos transportes públicos; que deveriam pagar mais pela travessia das pontes; que deveriam pagar mais pela segurança; que deveriam pagar mais pelos cuidados de saúde a que têm acesso. Vou ficar por aqui antes que alguém, lá pelos gabinetes governamentais, fique com ideias…
A segunda prende-se com as declarações de uma senhora psicóloga e comentadora televisiva (da TVI24, no caso), Melanie Tavares de sua graça, que, a propósito das agressões a uma menina de 12 anos, gravadas e difundidas pelas redes sociais, não se coibiu de responsabilizar a escola, sempre ela, a escola, por não cuidar dessas situações. Não se limita, aliás, a responsabilizar: acusa mesmo a escola e os seus responsáveis de aligeirar a gravidade das coisas, assim como quem varre o lixo para debaixo do tapete. Mais uma vez a ideia que transparece é a de que estes comentadores falam de tudo e de nada com uma desfaçatez que causa espanto. É que não basta ser pago para comentar. Também deve fazer-se o trabalho de casa e alicerçar os comentários em conhecimento. Mais uma que parece sofrer de pareidolia: anda a ver coisas, por certo…
Com tudo isto não sei mesmo se não estarei eu a sofrer de pareidolia. O melhor mesmo é ir consultar um especialista. Vou tratar disso e já volto…

Sobre o autor

Norberto Gonçalves

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