Esta crónica foi escrita na madrugada de vinte e dois de Fevereiro deste ano, vinte minutos depois das duas da madrugada. Escrito por extenso, são uma hora e uma data como outra qualquer. Mas transformando-a na sua notação numérica, torna-se mais mística. 22-02-2022, 02:20. Sem sinais, 220220220220. Se isto não é um código da Matrix para um portal no tempo, não sei o que mais possa ser. É isso ou são apenas duas e vinte da madrugada de vinte e dois de Fevereiro.
Nesta madrugada, as tropas russas começaram a entrar em território ucraniano controlado por separatistas. Como sabemos, o presidente Putin – em russo, já o escrevi aqui, o filho da senhora Putina – é um grande humanitário e está a enviar as forças armadas para limpar a neve das estradas para as pessoas de Luhansk e Donetsk poderem ir trabalhar em paz. Quantas vezes não ouvi em Portugal que se devia pôr soldados a limpar mato? Em Portugal, fala-se, fala-se, mas não se faz nada. O presidente russo é um empreendedor. Como ouvi de várias pessoas ligadas ao Bloco de Esquerda, nem sequer se pode falar de invasão, tal é a boa vontade das tropas do Kremlin.
Além de grande humanista, o presidente Vladimir Putin, honorável filho de Putina, é um extraordinário historiador. Sem a sua infinita sabedoria, jamais saberíamos que a Ucrânia foi inventada por Lenine ou que a Ucrânia sempre pertenceu ao Império Russo. Curiosamente, parece que Lenine foi o principal obreiro do fim do Império Russo, ao qual a Ucrânia já pertencia, mesmo antes de ser inventada por Lenine, homem que liquidou o Império Russo e criou a URSS – da qual a Ucrânia, que antes pertencia ao Império Russo, se juntou, para ser inventada por Lenine.
Este ano já ficou demonstrado que os portugueses são os únicos a quem a Federação Russa não consegue ganhar. É só mandar a malta da selecção de futsal. Os russos até podem começar melhor e invadir duas regiões de avanço. Mas depois a nossa rapaziada dá a volta ao resultado e quando Putin der conta até Vladivostok já fala português.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia