Para o bem e para o mal, Portugal costuma andar sempre um pouco atrasado em relação aos restantes países europeus. Quase uma década depois de os movimentos populistas de direita terem agitado o Reino Unido e a França e alguns anos após terem produzido o mesmo efeito em Espanha e em Itália, lá chegou a nossa vez.
É certo que, aqui e ali, fomos assistindo a alguns ensaios. Quem não se recorda das bandeiras de campanha de Paulo Portas em 2002, que precederam a integração do CDS-PP nos governos de Durão Barroso e de Santana Lopes? Quem não se lembra das atoardas antissistema de Marinho e Pinto nas Europeias de 2014, que o catapultaram para o Parlamento Europeu?
Mas nunca um discurso populista e demagogo tinha chegado sequer perto dos resultados do Chega do passado dia 10 de março. Mesmo discordando diametralmente com praticamente tudo o que propõe, é importante e necessário que se reconheça que André Ventura alcançou um resultado que, há apenas alguns anos, ninguém se atreveria sequer a imaginar. O próximo passo para o Chega será, naturalmente, querer disputar o lugar cimeiro do pódio com o PS e o PSD.
As eleições europeias serão, por isso, uma prova de fogo para o Chega. Mas, mais do que isso, serão a prova de vida para o “status quo” do nosso regime político: o aumento da expressão eleitoral do partido de André Ventura no dia 9 de junho significará a confirmação da interrupção do bipartidarismo em Portugal. Se o Chega conseguir superar o número de votos do PS e/ou do PSD, poderemos estar mesmo perante o fim do modelo bipartidário.
Aos dois maiores partidos da democracia portuguesa, representantes da esquerda e da direita moderadas, só resta um caminho: reconquistar a confiança dos portugueses. Mas o percurso não será fácil. As máquinas partidárias, as mesmas que produzem e difundem aqueles discursos pomposos sobre a importância da meritocracia e da abertura dos partidos à sociedade civil, atuam de modo a que os partidos se fechem cada vez mais sobre si próprios.
Quando se abdica do contributo dos melhores elementos da sociedade civil para a promoção do nosso bem-estar coletivo haverá sempre vencedores e vencidos. Perdem os partidos e perde o país. Ganham os “apparatchiks” e os “carreiristas políticos” e, claro, ganha e festeja o partido político que se especializou em tirar dividendos políticos da impreparação e incompetência destes últimos.
A cada vez que o foco da ação política se centra na resolução estrutural dos problemas do país, o espaço de manobra dos populismos (de direita e de esquerda) diminui. Mas isto exige competência e esforço. Já culpar e ofender os eleitores que, na livre expressão do seu direito de voto, confiaram no Chega, não exige nem uma coisa nem outra.
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