– Elsa, fala-se tanto em alterações climáticas! Achas que o clima tem mesmo mudado ao longo dos tempos? Será que o Homem tem capacidade para alterar o clima?
– Ana, sabes que a Serra da Estrela já teve um enorme glaciar, com sete línguas glaciárias? Sabias que a zona da Torre, do alto dos seus 1.990m de altitude, já teve uma massa de gelo acumulada, ao longo de milhares de anos, numa altura superior a 70m?
Recordo que este período Glaciário permaneceu no planeta por mais de 100 mil anos e teve o pico máximo de glaciação há 30.000 anos. Foi a última Glaciação, de Würms, ou a última Idade do Gelo. O planeta estava gelado, com as temperaturas médias 100º C abaixo das temperaturas médias atuais. No hemisfério norte atravessava-se a pé, da Europa para a América, através dos mares gelados. O nível médio da água do mar estaria 150 metros abaixo do nível atual. A área continental emersa era imensamente maior, com as baixas temperaturas a reter a água nos continentes sob a forma de gelo e neve.
Esta última glaciação deixou, na Serra da Estrela, marcas profundas que hoje podemos ainda observar como a erosão dos vales onde os glaciares se deslocavam, exemplo máximo no belo Vale Glaciário do Zêzere, com a altura de gelo a atingir mais de 300m; e os depósitos constituídos pelos produtos da erosão glaciária, como Moreias, Tilitos e Blocos Erráticos, o maior deles, o famoso Poio do Judeu, estacionado numa bordeira da Nave de Santo António e sobranceiro ao belo Vale Glaciar do Zêzere. Reza a lenda que esta gigantesca pedra errática já protegeu de uma brutal tempestade um pastor e o seu rebanho de 1.000 cabeças.
Mas o Poio do Judeu está ali estacionado para nos lembrar que a enorme massa de gelo que até ali o arrastou foi derretendo, perdendo força, abandonando-o, erraticamente, porque as temperaturas médias do planeta começavam de novo a subir e o planeta voltava a aquecer.
E desde então tem sido assim. As temperaturas têm aumentado. Estamos num período interglaciário, dizem.
Períodos de aquecimento e de arrefecimento global têm alternado, de forma irregular, ao longo dos tempos geológicos e desde a formação do Planeta Terra.
Durante esta última Idade do Gelo deslocavam-se pelo planeta mamutes, cervos gigantes e leões-das-cavernas, hoje extintos.
– Ana, anda, vamos visitá-los. Estão no Museu Interpretativo da Glaciação e das Alterações Climáticas, ali, no antigo Cine-Teatro da Guarda.
Vais reparar na enorme manada de mamutes que irrompe do antigo palco… É incrível imaginar que só não nos cruzamos hoje com eles na Estrela porque o clima da planeta mudou, sofrendo profundas alterações.
Sabes, este é o museu mais surpreendente e visitado da Península Ibérica. Para os próximos seis meses as reservas estão já esgotadas. Todos os miúdos querem ver estes gigantes da Idade do Gelo e, atrás dos miúdos vêm os pais e as famílias.
A cidade da Guarda está no mapa.