“Empadia”

Escrito por Diogo Cabrita

Há empadas e empatias e há empatia que sabe bem todos os dias e há aquela empada que agonia, bem como a azia que nasce na morte da empatia. Podemos adiar a relação, podemos protelar o almoço, mas não conseguimos gostar de quem nos agonia. A “empadia” é construir uma relação sem nenhuma empatia. Chega a um balcão um canalha, um mau-olhado, um bruto, um desnorteado, um agreste exigente e temos o emprego por um fio. Chega à consulta um tipo insultuoso, um que nos correu mal, um azedo diário, um mau vizinho, um cheio de pressa, um esperto encartado e não nos apetece nada ouvir. Vamos a conduzir o autocarro e vem o que não quer pagar. Chegamos para a altercação no domicílio e toca de ouvir impropérios e desconsiderações. O contrário também acontece: vamos à repartição e está lá a vida mal resolvida, a falta de sorriso, a ausência de delicadeza, a aspereza gratuita. Ou construímos “empadia” ou está o caldo entornado. As relações humanas, a fronteira entre elas, é a minha fascinação. Há imensa gente que nos desagrada com a pele só porque chegaram perto, só porque se aproximam. Também há quem nos agrade logo. Porque será? Os estudos sobre esta química são omissos, não comprovam a presença de recetores nem de repulsores. Aqui está uma matéria que envolve o pensamento, e que envolve as fronteiras entre nós. Uma questão de olhar? Uma sensibilidade olfativa? Depois temos de racionalizar para contraditar a emoção, “a primeira impressão”.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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