Na década de 1950, num pequeno local do Laboratório Cavendish, de Cambridge, que não passava de um antigo barracão reformado a que chamavam “o barracão”, reuniu-se uma série de brilhantes cristalógrafos. Todos eles viriam a receber o Prémio Nobel e a dar origem ao que é hoje conhecido por Laboratório de Biologia Molecular de Cambridge, uma das mais prestigiadas instituições científicas do mundo.
No que diz respeito à nossa história, os protagonistas mais destacados seriam os conhecidíssimos James Watson e Francis Crick. O primeiro, norte-americano e único biólogo do grupo, era um jovem e iconoclasta doutorado cujo maior interesse era precisamente descobrir alguma coisa que merecesse um Prémio Nobel. Crick, pelo contrário, era muito mais velho, físico e britânico. E nem sequer era ainda doutorado, o que era relativamente frequente no Reino Unido do pós-guerra. A sua tese, dedicada a explicar a estrutura da proteína humana mais abundante, o colagénio, ficaria durante algum tempo suspensa a favor da irresistível sedução do ADN. A verdade é que tanto Watson, como Crick, odiavam fazer experiências. Como partilhavam o mesmo gabinete, passavam o dia a discutir os resultados obtidos por outros, bebendo chávenas e chávenas do famoso chá inglês e construindo modelos que pudessem explicar a estrutura do ADN.
A pouco mais de 80 quilómetros, no King’s College de Londres, outros dois físicos esforçavam-se destemidamente por ter sucesso num desígnio idêntico. Mas, neste caso, não existia entre eles a sintonia adequada. Maurice Wilkins, um britânico regressado de um trabalho no projeto “Manhattan” e bastante misógino, lamentava-se por ter de trabalhar com Rosalind Franklin, uma investigadora de primeira, mas muitíssimo obstinada. Não só não colaborava com Wilkins, como até lhe ocultava resultados e, se surgisse a ocasião, chegava mesmo a ridicularizá-lo. É verdade que a situação de Franklin não era fácil num meio tão machista em que as mulheres que frequentavam a cantina eram mal vistas. Este choque de feitios teve como consequência colateral que Watson e Crick acabassem por ter acesso aos resultados de Franklin sem que ela soubesse. Assim, foi a famosa fotografia 51 de Franklin que lhes permitiu construir o modelo da dupla hélice.