O que entendemos por “nação” já mudou vezes sem conta ao longo da história. Em verdade, nunca existiu consenso quanto à sua definição. Para uns o elemento fundamental de uma “nação” residiria num substrato étnico comum, para outros na partilha de uma mesma cultura e para outros ainda na vontade manifesta de um conjunto de pessoas prolongar a sua existência coletiva. Apesar das diferenças, em todas as definições é clara a importância da “comunidade”, da “partilha” e da “vida coletiva”.
Das dissertações académicas à esfera político-ideológica a distância é curta e o caminho pode ser tortuoso sempre que assim interesse aos atores desta última. Uma definição extrapolada e abusiva de “nação” foi utilizada para alimentar os movimentos nacionalistas que conheceram o seu auge na primeira metade do século XX e que, agora, estão de regresso ao mesmo palco onde foram os responsáveis diretos por níveis de mortandade e de destruição sem precedentes. O assunto é, por isso, de uma enorme seriedade.
É imperioso que os conceitos de “comunidade”, de “partilha” e de “vida coletiva” sejam resgatados dos discursos retrógrados, populistas e demagogos e passem a ser entendidos segundo uma lógica humanista e universal. Com efeito, a grandeza de uma nação deve medir-se pela sua capacidade de inclusão e de integração. Inclusão e integração das pessoas que nasceram dentro das suas fronteiras territoriais e das pessoas que, tendo nascido noutras paragens, aí escolheram fazer vida, partilhando uma vida coletiva com as demais.
Nos países ocidentais, a imigração tornou-se uma verdadeira necessidade para garantir o dinamismo económico e a sustentabilidade demográfica. Portugal não é, obviamente, uma exceção. Mas, mesmo que a nossa demografia não precisasse, mesmo que a nossa economia não o exigisse, Portugal tem o dever histórico de se afirmar como um país de portas abertas para todos os que aqui queiram viver. Ou já nos esquecemos que fomos e somos um país com uma forte tradição emigratória e que centenas de milhares de portugueses também foram e são imigrantes em outros países?
É preocupante que nalguns quadrantes ainda subsista uma certa diabolização da figura do “imigrante” como alguém que vem para Portugal com a intenção de “roubar” os empregos aos portugueses, aproveitar-se dos benefícios do nosso sistema de segurança social ou, pior, para se dedicar à criminalidade. É uma pena também que a atração e integração de imigrantes ainda não se tenha assumido como um tema prioritário dos debates políticos a decorrer no âmbito da campanha eleitoral em curso.
Uma nação que se afirma de braços abertos para o mundo será sempre mais do que uma mera nação. Será pedra basilar de uma civilização emergente que preza a diversidade, o diálogo e a coexistência pacífica. Se é um mundo assim que queremos deixar às gerações futuras, importa reforçar que é responsabilidade de todos nós contribuir para a sua edificação.
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