CHEGA

Escrito por Carlos Peixoto

“Há ainda muita gente sem perceber que este partido já deixou de ser apenas um epifenómeno de descontentes e protestantes e que passou a estar também na equação de eleitores convictos das mais variadas faixas etárias e classes sociais ou económicas.”

Quer se goste ou se deteste, o CHEGA é um caso sério. Os últimos estudos de opinião, que não podem valer só quando convêm, sugerem que este partido pode eleger deputados em todos os círculos, com exceção de dois ou três menos representativos. No caso da Guarda, o método de Hondt, que regula a distribuição de votos por mandatos ou deputados, favorece os dois maiores partidos – PS e PSD – mas ainda assim não elimina a possibilidade do partido de André Ventura eleger o seu cabeça de lista e de assim retirar um deputado ao PS, prevendo-se que bastará obter uma votação superior a 15% para que esse objetivo possa ser alcançado.
Nunca na sua história este distrito esteve confrontado com tal eventualidade e o apelo ao voto útil na AD, sendo compreensível, pode não convencer quem sente já mais rejeição ou descrédito pelas forças políticas ditas tradicionais do que pela ascensão do CHEGA. Há ainda muita gente sem perceber que este partido já deixou de ser apenas um epifenómeno de descontentes e protestantes e que passou a estar também na equação de eleitores convictos das mais variadas faixas etárias e classes sociais ou económicas. A sua agenda dita radical ou xenófoba, que o seu fundador a cada passo vai procurando amenizar, já diz pouco a muitos e não parece ser capaz de afugentar ou envergonhar mesmo os mais moderados. É certo que há inúmeros indecisos, mas não me lembro de ouvir tanta gente a dizer descarada e desassombradamente que vai votar neste partido.
A debandada (residual, é certo, mas dantes impensável) de deputados e ex-deputados do PSD para se alistarem no CHEGA, com o natural aproveitamento estratégico protagonizado pelo seu líder, criou a sensação de que o PSD está a minguar e que o CHEGA está a engrossar. Os recentes episódios da Madeira, reações incluídas, vieram ajudar à festa. Perguntei ontem a um desses imperturbáveis “Venturistas” se se sentia confortável em apostar num partido que é acusado de não ter quadros e de não ter ideias capazes de governar o país, e a resposta que ouvi foi sintomática e diz muito de que o grau de exigência que motiva o voto no CHEGA é menor daquele que induz o voto nos partidos maiores. E o que ouvi foi que o PS e o PSD tiveram sempre tudo isso e que apesar de ser assim o país está no estado em que está!!!
Por mais que se grite que não é sério meter o PS e o PSD no mesmo saco, porque nos últimos 27 anos o primeiro governou 20 e o segundo apenas 7 e em condições muito difíceis, a verdade é que a injusta colagem destes dois partidos na responsabilidade pela estagnação do país, é um quebra-cabeças que a AD ainda não conseguiu desconstruir. Não é que os eleitores, especialmente os jovens, onde a taxa de penetração do CHEGA é maior, sintam qualquer espécie de ilusão com este partido, mas para eles é uma novidade e nunca os traiu ou desapontou. Muitos deles viveram no pós 25 de Abril, coabitaram com a vinda para Portugal dos fundos europeus e acreditaram que o país seria rico e que por cá viveriam com comodidade e com possibilidade de enriquecerem com o seu trabalho. Foi isso que lhes prometeram durante décadas e o que sabem, veem e sentem, é que não vivem, só sobrevivem, mesmo que se esforcem até suar as estopinhas, e que têm de ir embora para se realizarem pessoal e profissionalmente.
É por isso natural que se sintam agastados e atraiçoados pela classe política, que para eles não engloba quem nunca foi poder ou quem nunca permitiu arranjos de poder, como é o caso do CHEGA. É por isso que quanto mais os partidos tradicionais maltratarem André Ventura, mais ele sobe nas intenções de voto. Como há dias alguém escreveu, «os dirigentes da AD devem tentar compreender estes eleitores e não os atacar. Tratá-los como fascistas ou racistas não é a melhor forma de recuperar os seus votos. A maioria destes eleitores é da família política da AD. Mas agora estão zangados e desiludidos com o PSD e com o CDS. No fundo, continuam a fazer parte desta sua família. Eles podem não saber, mas a AD tem que saber».

* Advogado e presidente da Assembleia Distrital do PSD da Guarda

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Carlos Peixoto

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