Novas ferramentas, novas descobertas

Escrito por António Costa

“O século XVII continuava a oferecer mais e mais surpresas como resultado das descobertas e experiências que os cientistas multiplicavam nos seus laboratórios. “

Anton van Leeuwenhoek, um comerciante holandês, conseguiu, em 1670, fabricar a primeira lente suficientemente perfeita para aumentar pequenos objetos sem os distorcer. Com esta lente construiu uma espécie de microscópio com ampliação até 300 vezes.
Após vários anos de trabalho, em 1677 conseguiu aperfeiçoar a lente a ponto de ser possível observar seres diminutos, impossíveis de ver a olho nu. Anos mais tarde, Leeuwenhoek conseguiu distinguir elementos ainda mais pequenos: os que atualmente conhecemos como bactérias. De qualquer modo, foi necessário aguardar um século até que os microscópios fossem suficientemente perfeitos para permitir observar as bactérias com algum pormenor. No século XVII, um biólogo dinamarquês, Otto Friedrich Müller, publicou um livro no qual, pela primeira vez, se fez a descrição e classificação das bactérias.
A descoberta de Van Leeuwenhoek, que aperfeiçoou o microscópio ótico, abriu portas para um novo mundo até então desconhecido: descobriu, nas gotas de água suja, uma grande quantidade de microrganismos que pareciam nascer «espontaneamente». Sem querer, esta descoberta pareceu dar um novo impulso aos seguidores da teoria da geração espontânea. Esta ideia aristotélica não foi totalmente rejeitada, apesar das experiências de outros cientistas que mostravam o oposto. O século XVII continuava a oferecer mais e mais surpresas como resultado das descobertas e experiências que os cientistas multiplicavam nos seus laboratórios.
Anos antes de Van Leeuwenhoek, um médico italiano, Francesco Rodi, realizou as primeiras experiências para demostrar a falsidade da ideia predominante no seu tempo em torno da origem da vida. Redi propôs-se demonstrar que a teoria da geração espontânea apresentada por Aristóteles no século IV a.C., que continuava viva no século XVII, era falsa. Na experiência, Redi colocou em vários frascos um víbora morta, um peixe e um pedaço de carne de vitela, e deixou os recipientes abertos. Noutros três frascos, colocou os mesmos elementos, mas fechou os recipientes e selou-os.
Os resultados foram muito interessantes. Nos frascos fechados e selados não havia larvas, apesar de o conteúdo de todos eles estar em decomposição e cheirar mal. Nos frascos abertos, pelo contrário, havia larvas e moscas que entravam e saíam. Portanto, deduziu desta sua observação que a carne dos animais mortos não podia gerar larvas, exceto se tivessem sido lá depositados ovos de outros seres.
Como Redi pensou que a entrada de ar nos frascos fechados poderia ter influenciado a sua experiência, realizou ainda outra. Desta vez, colocou carne de vaca e carne de peixe num frasco aberto e coberto com gaze, e colocou-o dentro de uma caixa também coberta com uma gaze. Os resultados que obteve nesta segunda experiência foram exatamente os mesmos que na primeira. Mas, mesmo perante os resultados obtidos, e com as experiências de outros autores, a teoria da geração espontânea ainda tinha muitos adeptos. O próprio Redi continuava convencido de que alguns insetos se geravam de forma espontânea. Na sua obra “Experiência sobre a Geração de Insetos”, que publicou, em 1684, expôs as suas experiências e ilustrou-as. A partir do século XVII diversas experiências demonstraram que o que tinha sido previamente estabelecido a respeito da geração espontânea, e apresentado por Aristóteles no século IV a.C., era falso. Era evidente que se devia aplicar o que rezava a frase “omne vivum ex ovo”, ou seja, tudo o que vive veem de outro ser vivo preexistente (literalmente, de um ovo). Contudo, continuavam a faltar algumas batalhas antes de ser dado o passo definitivo em direção à biogénese, isto é, que todo o ser vivo é proveniente de outro ser vivo.

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António Costa

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