1. Ainda que por vezes tenhamos que ouvir alguns dizer que «não foi para isto que se fez a Revolução» ou que «Abril não se cumpriu», entre tantas outras exclamações estapafúrdias, o 25 de Abril cumpriu a maioria dos pressupostos que uma revolução encerra: a transformação social, económica, cultural e política da sociedade. E comemorar Abril é, precisamente, recordar o ponto de partida, em 1974, e perceber a metamorfose que o país viveu. Por isso devemos celebrar Abril, para não esquecermos o Portugal do antigo regime e comemorarmos o caminho, com muitas curvas e erros, que nos permitiu consagrar a modernidade e progresso.
Ainda que muitos anseios ou ambições e sonhos não estejam completamente alcançados; ou que as circunstâncias do momento não coincidam com um contexto mais favorável, Portugal é hoje um país com uma Democracia consolidada (ainda que tenhamos que estar sempre vigilantes), onde a Liberdade é um dado adquirido e onde as pessoas vivem melhor, com mais dignidade e qualidade de vida. Mesmo sabendo que quarenta e nove anos depois, e enquanto assistimos a tantos “casos e casinhos”, não há alegria para festejar e comemorar uma data que mudou para sempre a forma como os portugueses vivem e encaram a vida pública. Mesmo ouvindo, aqui e ali, que «antigamente era muito melhor», mas não era, era muito pior, vivíamos miseravelmente e não havia espaço para sonhar; mesmo quando as crises nos levam a temer o pior, a nível individual e coletivo; mesmo quando a história nos mostra que foi precisamente na ressaca de períodos de crises profundas, a que sucederam conflitos socias e políticos que desaguaram na instalação de regimes ditatoriais e nepotistas e ao emergir de despotismos; mesmo assim, com todas as ameaças e dúvidas com que vivemos, «agora ninguém mais cerra/as portas que Abril abriu!» (Ary dos Santos).
2. Voltaremos na próxima edição de O INTERIOR a falar de Abril, para falarmos dos 75 anos da Rádio Altitude. E de um primeiro momento de aniversário, no contexto das comemorações dos 49 anos do 25 de Abril: “Abril no Altitude – a Revolução passou pela Rádio”, um sarau que a Rádio Altitude vai promover no próximo dia 29 no Teatro Municipal da Guarda.
A Rádio Altitude foi a única instituição ocupada pelos militares do MFA, na manhã do dia 25 de Abril de 1974, no distrito da Guarda e, depois, esteve sempre do lado certo da história, na defesa dos valores de Abril, da liberdade e da democracia – porque não há Liberdade sem liberdade de expressão; porque sem uma imprensa livre não há liberdade de expressão e não há Democracia
3. Perante as dificuldades que as famílias estão a sentir com a inflação, o Governo tem anunciado medidas de apoio determinantes para a generalidade dos portugueses.
Com a economia a dar sinais positivos, o crescimento das exportações, nomeadamente com o sucesso excecional no turismo, e a consolidação orçamental e receitas fiscais extraordinárias o país está melhor, mesmo que as pessoas estejam na rua pois os seus rendimentos baixaram substancialmente perante o custo de vida. Por isso, a folga orçamental que podia ser encaminhada para as necessárias reformas estruturais, vai para apoios sociais e combate à pobreza. Medidas como o pacote de produtos alimentares a IVA zero, o subsídio de renda e a bonificação de juros no crédito à habitação (que disparou brutalmente), o aumento do subsidio de alimentação e o aumento salarial de 1% na função pública, o apoio trimestral de 90 euros às famílias mais vulneráveis, o reforço do abono de família, o aumento de 3,57% aos pensionistas, o plano de baixa de IRS até 2027, ou a reprogramação do PRR com mais quatro mil milhões de euros são uma mão cheia de medidas essenciais para enfrentar as dificuldades atuais. Pode não ser estruturante para o país, mas é estratégico politicamente (retira a TAP da antena), permitirá a paz social e contribuirá para estancar as dificuldades de muitos portugueses.
Celebrar a liberdade
“«A Rádio Altitude foi a única instituição ocupada pelos militares do MFA, na manhã do dia 25 de Abril de 1974, no distrito da Guarda”