A energia é, porventura, o assunto mais sério do nosso futuro coletivo. Basta ver os dias quentes que se introduziram no meio deste Inverno para perceber, de forma clara, o que são as alterações climáticas e a evolução dramática que tiveram nos últimos anos. Por isso, a sustentabilidade ambiental do planeta deveria estar no topo das inquietações de todos e, portanto, das prioridades políticas. Estas deveriam incentivar a redução dos consumos ou a opção por energias provenientes de fontes limpas e renováveis. E apostar nas mudanças que produzam ganhos de eficiência energética.
Vem isto a propósito das declarações nada felizes proferidas recentemente pelo secretário de Estado da Energia, João Galamba, na inauguração de uma subestação da rede elétrica. Disse então que a melhor forma de agradecer à EDP pelo investimento na Guarda é «consumir mais energia». Ora estas afirmações são uma leviandade, pelas razões acima ditas, e também um insulto: os investimentos públicos para satisfazer necessidades básicas das populações, mesmo quando prestados por empresas privadas, não são um favor, são um direito de todos os cidadãos e um dever do Estado.
Nós, os beirões, não queremos favores! Queremos igualdade e justiça, valores da ética republicana.
Segundo o Eurostat, só três países da Europa de Leste são piores do que Portugal em pobreza energética, isto por causa dos baixos rendimentos da população e de edifícios ineficientes, sem isolamento adequado e com janelas simples. Estando a Guarda inserida numa das regiões pobres do país, isso também se reflete na pouca eficiência energética da maior parte das suas habitações.
O problema é que a Guarda é também uma das regiões com condições climáticas mais adversas do país, sendo por isso fortemente penalizada com gastos energéticos tanto no Verão como, sobretudo, no Inverno. É, por isso, um mercado apetecível para as empresas energéticas: o gás natural, por exemplo, chegou aqui antes de outras regiões mais populosas porque era evidente que teria um maior consumo potencial per capita.
Ora, perante estes dados, o secretário de Estado da Energia antes de mandar as pessoas consumir mais, deveria lançar duas políticas públicas dirigidas à região: incentivos em sede de IRS para os particulares que invistam na eficiência energética das suas habitações ou na melhoria das condições térmicas dos edifícios; e uma tarifa social para os segmentos populacionais mais desfavorecidos da Beira Alta.
Melhor isso do que dizer coisas sem pensar…
Acácio Pereira
* Dirigente sindical