Cara a Cara

«Se o Governo descongelar as propinas será muito difícil para um estudante continuar os estudos»

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Escrito por Sofia Pereira

P – Tomou posse na presidência da Associação Académica da Guarda para o mandato 2024/2025, quais são os objetivos da nova equipa?
R – Queremos dar voz aos estudantes de uma maneira que, se calhar, até agora não se deu tanto. Sei que às vezes somos ignorados por algumas entidades e queremos lutar e combater “a ignorância”. Os estudantes estão na Guarda, sabemos que fazemos falta à cidade, da mesma forma que a Guarda nos faz falta a nós. Estamos aqui para ajudar e esperamos que a Guarda também esteja cá para nos ajudar.

P – Mas quais são os principais desafios?
R – Um deles é, sem dúvida, a melhoria da situação financeira em que se encontra. Mas temos outros dois, um dos quais é o combate ao declínio da saúde mental dos estudantes, algo que sempre me preocupou bastante. Eu e a minha equipa faremos de tudo o que estiver ao nosso alcance para combater esse declínio. O outro é a crise na habitação estudantil. Sabemos que não está fácil, a elevada procura e a inflação fizeram disparar os preços de arrendamento na cidade. Atualmente, até onde era acessível arranjar uma casa para um jovem estudante se torna cada vez mais difícil. O ensino superior precisa não só de boas condições académicas, mas também de ação social bem estruturada. Precisamos de mais camas, mais casas acessíveis, mais ajuda.

P – Há muito que se reclamam residências para a cidade, mas até agora o IPG ainda não conseguiu essa concretização. Como estão os estudantes a acompanhar esse problema?
R – Acho que revolta é sempre uma palavra muito boa. Há muitos alunos que vêm para a Guarda e que mal têm capacidades financeiras para conseguir sustentar um ensino normal… Os preços das rendas dispararam nos últimos anos, já não é a mesma coisa do que arrendar casa há três ou quatro anos. Agora os preços estão muito mais elevados e há uma enorme falta de oferta na Guarda. As casas que existem e estão disponíveis têm requisitos muito altos para um estudante de 18 anos que vem para aqui estudar. Já quanto às residências existentes, também não estão nas melhores condições. Existem duas residências masculinas e três femininas e as condições não são suficientes – há estudantes a quem falta fornos e micro-ondas e há até quem traga certas coisas de casa. Especialmente no ano passado, vi muita gente que chegava à Guarda e, como não havia alojamento, teve que voltar para trás e não seguiram os estudos neste Instituto.

P – Fora a habitação, quais são as maiores dificuldades dos alunos do IPG?
R – Existe sempre o problema das propinas, que tem vindo a assustar mais gente e todas as Associações Académicas do país, tanto mais que voltou a falar-se no possível descongelamento das propinas. Os alunos não estão prontos para isso porque já custa pagar com a propina fixa de 697 euros por ano. Se o Estado descongelar agora no novo Orçamento de Estado será muito difícil para um estudante conseguir continuar os seus estudos.

P – A maioria dos estudantes vem para o ensino superior apoiado pelos pais. O que torna a situação dos jovens estudantes ainda mais difícil.
R – Existe a bolsa da DGES, que já é uma ajuda, e outras bolsas, de cada município e não só. Mas não é suficiente. Os pais já fazem sacrifícios para conseguir ter os filhos aqui, e muitos pais não conseguem ter os filhos a estudar no ensino superior. E com o descongelamento da propina muito menos ainda, o sonho de ir para o ensino superior será cada vez mais inalcançável para muitos deles. A maior parte dos jovens não trabalha, vem para o IPG com ajuda dos pais. E para os pais solteiros ou com ordenado mínimo é impossível ter um filho a estudar na Guarda, onde supostamente seria mais barato comparando com Lisboa ou Porto, mas implica, mesmo assim, despesas elevadas.

P – Como está a situação financeira da Associação Académica da Guarda?
R – É bastante crítica. Não pretendemos ocultar esta realidade, uma vez que a anterior presidente, Beatriz Silva, já havia reconhecido publicamente estas dificuldades. Infelizmente, direções anteriores, tanto à minha como à da minha antecessora, deixaram a associação com um nível significativo de dívidas. Embora não possamos contar com milagres, comprometo-me a fazer todos os esforços possíveis para reduzir ao máximo estas dívidas e melhorar a saúde financeira da AAG. Ainda não tenho os valores das dívidas em concreto, só os terei esta sexta-feira.

P – A Semana do Caloiro já está a ser preparada?
R – Sim, já iniciámos os preparativos, embora ainda numa fase inicial. As datas serão divulgadas publicamente mais à frente.

P – Há cinco anos que estuda no IPG e agora assume a presidência da Associação Académica, como olha para a cidade e para a escola onde estuda e o que espera para o próximo mandato?
R – Diferente. Sinto que conheço muito mais a cidade. Sinto que já está aqui um bocado de mim. Cinco anos parece pouco, mas é bastante para alguém que veio para aqui estudar. Sinto que conheço muito bem a nossa comunidade académica. Para este ano queremos ter muita voz ativa e esperança. Esperamos que nos levem a sério. Somos jovens, cometemos erros, mas estamos aqui para fazer a diferença e ajudarmo-nos uns aos outros.

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TOMÁS MIGUEL

Presidente da Associação Académica da Guarda

Idade: 24 anos

Naturalidade: Almada

Currículo (resumido): Frequenta a licenciatura de Gestão de Recursos Humanos na ESTG do IPG; Foi Community Manager de uma empresa na área da tecnologia durante 5 anos; É escuteiro e está ligado ao voluntariado desde pequeno.

Livro preferido: “Cloud Atlas”, de David Mitchell

Filme preferido: “Inception” e “Interstellar”, ambos de Christopher Nolan

Hobbies: Fazer magia, ler, ver filmes, jogar vídeojogos e jogos de tabuleiro

Sobre o autor

Sofia Pereira

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