Cara a Cara

«Pessoas que gostam dos bombeiros vamos arranjando, mas não a quantidade suficiente»

Marco Lucas (1)
Escrito por Sofia Pereira

P – Tomou posse no domingo como comandante dos Bombeiros Voluntários Egitanienses, quais são os principais objetivos?
R – Ser comandante desta corporação acarreta muita responsabilidade porque tenho à minha responsabilidade vários homens e mulheres e a questão do socorro no nosso concelho. Para estes cinco anos um dos meus grandes objetivos é, sem dúvida, aumentarmos o número de elementos do quadro ativo, porque ao longo dos últimos anos houve muita gente a sair em virtude de muitas coisas, das crises. Outro objetivo é criar melhores condições para os bombeiros. Apesar de termos um quartel que, aparentemente, está bom, é um edifício com mais de 20 anos. Já houve obras profundas, até porque com o evoluir de tudo, mas há partes que não estão operacionais como deviam. Isso vai acarretar muitos custos, mas é uma tarefa importante para os nossos voluntários estarem aqui e melhor cumprirem as suas tarefas. Também desejo melhorar o nosso polo de Escola de Formação Nacional de Bombeiros para aperfeiçoar a formação e o treino dos voluntários não só da nossa corporação, como das corporações vizinhas. Quanto aos veículos, alguns já têm alguns anos e temos que ir renovando a frota assim que se possa. Uma das coisas boas é que vamos completar 150 anos em 2026, e é um marco histórico que queremos passar para a sociedade. Nesse ano vamos tentar ligar ainda mais os munícipes ao corpo de bombeiros para que vejam o que fazemos e perceberem o nosso trabalho.

P – Como está o voluntariado nos Bombeiros da Guarda? Ainda ultrapassa uma crise?
R – Neste momento temos cerca de 100 elementos no quadro ativo que fazem serviço diariamente. Depois temos cerca de 20 a 30 pessoas que não podem fazer serviço, que são os estagiários a frequentarem a escola para depois possivelmente serem bombeiros, e temos os mais novos, os cadetes ou infantes. Só contamos com 100 elementos. Arranjar voluntários é um bocadinho difícil porque assim nos obriga a legislação. De há uns anos para cá ser bombeiro acarreta que tenhamos de fazer muitas horas de formação e no nosso corpo de bombeiros ainda mais porque temos de dar muitas horas de voluntariado a fazer serviço. E como as pessoas não são remuneradas não veem isto com muito agrado porque temos de dispensar muito do nosso tempo para o corpo de bombeiros e a comunidade e é difícil arranjar pessoas. Claro que pessoas que gostam disto vamos arranjando, mas não a quantidade suficiente que gostaríamos.

P – O que se poderia fazer para incentivar as pessoas a juntarem-se aos bombeiros?
R – A grande questão passa por – e há muitos municípios que já o fizeram –tentar arranjar alguns benefícios não só para os voluntários, mas para pessoas que prestem algum tipo de voluntariado à sociedade. Vimos para aqui sem ser remunerados e damos um contributo à sociedade… Acho que também nós devemos ser ressarcidos de alguma coisa, embora pouca que seja. E acho que através dos municípios e da CIM poderia haver algum tipo de benefício fiscal ou assim que pudesse atrair mais pessoas para os bombeiros.

P – Quanto aos elementos do comando, vai haver alterações ou as pessoas vão manter-se? 
R – Não. Atualmente não existia ninguém do comando. Após a saída, no início do ano, do antigo comandante António Pereira, saiu também com ele o adjunto do comando e, até esta data, não havia ninguém. Como era o mais graduado estava em comando por suplência. Assumi as funções de comandante neste domingo, e agora cabe-me a mim recrutar, dentro ou fora do nosso corpo ativo, elementos para me ajudarem e fazermos uma equipa. Brevemente irei ter todas as informações necessárias para depois constituir equipa para trabalhar nestes cinco anos.

P – Quais são as principais carências do corpo ativo?
R – As dificuldades neste tipo de associações, além da questão do voluntariado, passam também pela questão do financiamento. Isto não é tanto da minha responsabilidade, é mais da direção, mas esta é uma das grandes dificuldades destas associações humanitárias. Entretanto também temos a questão das carreiras dos nossos profissionais. Paralelamente aos bombeiros voluntários temos um quadro de bombeiros profissionais que aumentou drasticamente nos últimos anos, o problema é que não há uma carreira a nível nacional em que possam estar integrados. É uma questão do poder central, que tem de olhar para os bombeiros e fazer, de uma vez por todas, uma carreira e regulamentá-la para que isto seja mais atrativo para quem vem para aqui trabalhar e também para terem uma carreira e uma continuação. É um dos grandes temas, para mim, enquanto comandante, que me preocupam.

P – Quanto a este Verão, como está a preparação para esta época? 
R – Já estamos a preparar esta época há algum tempo. Neste momento temos quase tudo preparado, quase todos os veículos, exceto dois que ainda estão em manutenção, mas tirando isso temos todos os veículos e equipamentos disponíveis para o que aí vem. Em termos de elementos poderemos ter o pessoal voluntário que se predispõe a fazer parte das equipas para o Verão. A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil aloca nos bombeiros um subsídio para termos mais equipas dedicadas aos incêndios. Agora termos cerca de 10 homens, fora os profissionais, para o dispositivo dos incêndios rurais. Mas se houver alguma ocorrência de maiores dimensões podemos chamar os voluntários que se podem juntar a estas equipas.

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MARCO LUCAS

Comandante dos Bombeiros Voluntários da Guarda

Idade: 40 anos

Naturalidade: Guarda

Currículo (resumido): Licenciado em Engenharia Informática e professor de 2º ciclo de informática. Bombeiro há mais de 20 anos e foi adjunto do comando entre 2014-2018. Trabalha na Força Especial de Proteção Civil. Este ano participou, pela segunda vez, na campanha de combate aos incêndios no Chile e em 2023 ajudou a organizar o combate ao incêndio do Canadá.

Livro preferido: “Apontamentos para a história dos Bombeiros Voluntários da Guarda”, de Álvaro Guerreiro

Filme preferido: Documentários

Hobbies: Estar com a família, andar de bicicleta e jogar à bola

Sobre o autor

Sofia Pereira

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