Cara a Cara

«Percebemos que os nossos colegas não estavam preparados para fazer esta transição tão importante para o seu futuro»

Escrito por Sofia Craveiro

Entrevista a João Vaz, porta-voz da recém-lançada plataforma Easier

P – O grupo de jovens guardenses que está aqui a representar criou a iniciativa “Easier”. Em que consiste?

R – A “Easier” é uma iniciativa constituída por jovens da Guarda que frequentam ou já frequentaram o ensino superior e que pretendem apoiar os seus conterrâneos na transição do ensino secundário para o ensino superior. Nós percebemos que os nossos colegas não estavam preparados para fazer esta transição que tão importante é para o seu futuro. Achámos que seria bom, por já termos mais experiência, termos passado pelos mesmos problemas que eles e já termos uma maturidade diferente, dar-lhes algum apoio e conseguir facilitar este processo para eles.

P – Essa vontade de ajudar surgiu da vossa própria experiência, ou de casos concretos com quem contactaram?

R – Isto começou inicialmente com um grupo mais pequeno. Neste momento somos doze, mas isto começou de uma conversa entre mim e alguns amigos, em que notámos que esta era uma dificuldade. Até percebemos, quando tínhamos falado com outro colegas que conhecíamos da universidade, que isto era uma realidade mais ou menos geral a nível nacional. Mas percebemos que aqui na Guarda era ainda mais complicado porque nas outras regiões já havia iniciativas do género ou então iniciativas a nível nacional, mas que acabavam por intervir mais nas cidades maiores. Portanto, foi isso que motivou este projeto na Guarda.

P – Ou seja, o vosso objetivo é colmatar uma lacuna que existe no que respeita ao aconselhamento por parte de alguém mais jovem?

R – Sim… não só o aconselhamento, porque iria exigir muito tempo para conseguirmos aconselhar individualmente cada um dos nossos colegas – ainda que possamos eventualmente desenvolver algum programa nesse sentido. Mas o trabalho irá focar-se na canalização de informação, para conseguir esclarecer os nossos colegas mais novos. Isto porque eles próprios não sabem – e nós também não, naturalmente, mas vamos tentar trazer essas informações. Coisas muito simples como “qual é a diferença – por exemplo – entre Engenharia Física e Engenharia Biofísica”? São áreas que são muito próximas, mas que acabam por ser bastante diferentes e é esse tipo de diferenças que depois permite fazer decisões mais informadas.

P – E em que vai assentar essa informação prestada aos mais jovens? Vão falar com algum especialista, contactar diretamente as fontes…?

R – Inicialmente o nosso plano é trabalhar com base mesmo em testemunhos de experiências pessoais, de pessoas que já passaram ou estão [a passar] pelo caso deles ou que estão no ensino superior. Achamos que essa abordagem mais próxima, em que eles conseguem sentir que estão a falar com alguém que não está muito longe da realidade deles, é melhor do que estar a chamar especialistas, embora não excluamos essa possibilidade.

P – Já referiu que, inicialmente, a ideia é criar plataformas nas redes sociais e meios online, mas depois pretendem realizar outro tipo de eventos como palestras ou debates. Irão envolver outros membros da sociedade civil ou será mais focado no contacto do vosso grupo com os finalistas de secundário?

R – A ideia é trazer pessoas de fora também a participar porque achamos que limitar esta partilha de informação e de experiências aos doze membros que temos é muito redutor. Até porque a nossa representatividade é apenas de sete instituições de ensino superior e há muitas mais e com bastante qualidade. Por isso a nossa ideia é trazer outras pessoas de fora da área para colaborar pontualmente connosco.

P – Nesta fase, em que muita coisa mudou no ensino, esta iniciativa pode ser uma mais-valia para os alunos? Porque tendo em conta que há muitos cursos que agora têm componentes lecionadas à distância isso pode pesar nas decisões ou até ter influência na qualidade da formação…

R – Sem dúvida. Estas alterações relacionadas com a situação do coronavírus vão mudar muito a realidade do ensino superior e também [a forma] como os próprios estudantes vivem a universidade em si. A maior parte das universidades, pelo que entendo, estão a optar por fazer regimes mistos, portanto, não vão deixar totalmente de parte as aulas presenciais e até irão dar-lhes maior primazia do que às aulas online. Mas a verdade é que a universidade não é apenas um lugar de ensino. É um lugar de troca de ideias, é um lugar de oportunidades, de criação, de network. E o facto de estarmos a reduzir o tempo no campus vai impossibilitar um bocado ter essas experiências e se calhar a nossa iniciativa também vai nesse sentido.

Perfil

João Vaz

Porta-voz da plataforma Easier

Idade: 21 anos

Naturalidade: Guarda

Currículo: Licenciatura em Administração Pública na Universidade do Minho (UM); Presidente do Núcleo de Alunos de Administração Pública da UM; membro da comissão instaladora da futura Federação Nacional dos Alunos de Administração Pública; membro do Conselho Fiscal e Jurisdicional da Associação Académica da UM; Já desempenhou funções com vice-presidente interno da Ace Junior Agency;

Livro preferido: “Mão do Diabo”, de José Rodrigues dos Santos

Filme: preferido: “Amigos Improváveis”, de Olivier Nakache e Eric Toledano

Sobre o autor

Sofia Craveiro

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