Cara a Cara

«Os alunos leem menos Vergílio Ferreira do que desejaríamos»

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Escrito por Sofia Pereira

P – Qual foi a adesão das pessoas durante e depois da inauguração da “Casa Vergílio Ferreira – Para Sempre”, na passada quinta-feira?
R – A inauguração teve lugar aquando da realização da terceira edição do Festival Literário “Em Nome da Terra”, na aldeia de Melo, e a reação dos escritores que estavam presentes, população e visitantes não podia ter sido melhor. As pessoas consideraram ser um museu virado para o futuro, não é um museu do passado para ver o prato onde o escritor comia ou a roupa que usava… É um museu que nos dá a conhecer o pensamento e a obra de Vergílio Ferreira.

P – A Villa Josephine já era um ponto de atração no concelho de Gouveia. Depois de inaugurada a Casa Vergílio Ferreira, que pessoas esperam receber?
R – O espaço é direcionado para todos aqueles que queiram visitar Melo e que queiram saber mais sobre Vergílio Ferreira. Todos estão convidados, desde escolas ao público em geral. Atualmente, os alunos leem menos Vergílio Ferreira do que desejaríamos, tendo em conta que a “Aparição” já deixou ser livro obrigatório no ensino secundário, mas vamos fazer atividades para as escolas, como sessões de escrita criativa, oficinas de ilustração, entre outras. Queremos ter um espaço dinâmico para o público escolar, de forma a que, fora da sala de aula, se aproximem à escrita vergiliana. Também temos a particularidade de ter residências artísticas. Já temos alguns escritores confirmados, irá sair brevemente um calendário e os nomes dos autores que vêm residir para a Casa Vergílio Ferreira – Para Sempre.

P – Vergílio Ferreira é um importante escritor que passou pelos manuais escolares, mas atualmente já não está no Plano Nacional de Leitura. Que comentário lhe merece essa ausência?
R – É importantíssimo que regresse, tendo em contas a reflexões que Vergílio Ferreira fez ao longo dos livros, nomeadamente na “Aparição”, que ajuda a estruturar o pensamento. Vergílio Ferreira já não é lecionado porque um outro escritor, do qual todos nos orgulhamos, ganhou um Nobel, mas de certa forma ofuscou todos os escritores que lhe eram contemporâneos, como Vergílio Ferreira, Agustina Bessa-Luís, Miguel Torga ou outros autores do século XX ou da segunda metade do século XX. É importante que Vergílio Ferreira esteja nos nossos currículos, mas o ensino em Portugal não está muito direcionado para o mais importante, que é ajudar-nos a pensar por nós. E não há melhor obra literária para isso que “Aparição”, de Vergílio Ferreira.

P – O que podemos encontrar neste edifício emblemático?
R – No rés-do-chão temos a casa do professor com uma cronologia da sua vida e a sua biblioteca digital. Teremos exposições no auditório, são exposições temporárias, neste momento estão patentes alguns manuscritos, nomeadamente “Vagão Jota”, o único à guarda da Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira, de Gouveia, como também alguns livros que marcaram a obra e a vida do escritor. No primeiro andar há instalações artísticas de vários criadores que convidámos para o efeito. Para “A Família Literária” convidámos António Ramalho, Ana Biscaia na sala do escritor, Frederico Corado na sala “A Sombra das Memórias”, na sala “O Romance” é o “Para Sempre” e na sala “O Ensaio” a “Carta ao Futuro”. E temos ainda a questão da montanha, da metafísica da importância do espaço da montanha na obra do Vergílio Ferreira.
No segundo andar temos uma residência. No fundo, é uma casa que servirá de residência artística para escritores e outros artistas virem a Melo criar arte porque, para Vergílio Ferreira, a arte era a forma de nos encontrarmos e reconhecermos. Era o melhor que o ser humano tem… Queremos que esta seja uma casa de criação, de música, de pintura, e da mais nobre das artes, a literatura.

P – Como vai funcionar? Tem entrada gratuita?
R – Vai estar aberta de quarta a domingo, das 9h30 às 18 horas, e haverá visitas guiadas por marcação. Durante o primeiro mês as entradas serão livres.

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CATARINA SANTOS

Coordenadora da Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira e do projeto “Melo, Aldeia Literária”

Idade: 46 anos

Naturalidade: Gouveia

Currículo (resumido): Coordenadora da Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira, Licenciada em História e Pós-graduada em Ciências Documentais. Foi docente.

Livro preferido: “Alegria Breve”, Vergílio Ferreira

Hobbies: Ler e conviver com pessoas

Sobre o autor

Sofia Pereira

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