P – Qual é o objetivo da Associação Património.Guarda e quando foi oficialmente fundada?
R – O objetivo é promover a divulgação e a salvaguarda do património cultural e ambiental do concelho da Guarda. Esta associação teve início formal em 3 de julho deste ano, mas esteve a ser preparada durante cerca de ano e meio, com diversos contactos com pessoas que, em contextos diversos, foram revelando o seu interesse e a sua preocupação pela defesa do património, com especial atenção relativamente ao Centro Histórico.
P – Quantas pessoas estão envolvidas na Associação Património.Guarda?
R – Os órgãos sociais são constituídos por 15 pessoas, não incluindo este número os elementos que formam o Conselho Consultivo, os quais residem em várias partes do país e cujo número é atualmente de seis, estando a sua constituição em aberto. O número de associados até ao dia de hoje é de 51 e estamos a registar agora, depois das entrevistas que tivemos nas rádios locais, um grande movimento de adesão por parte de pessoas que nos estão a contactar com essa intenção.
P – Como está o património da cidade?
R – O património da Guarda continua a aguardar que se olhe para ele com olhar atento e disponível para acorrer efetiva e eficazmente em sua defesa contra a degradação que o vem afetando desde há muitas décadas. Esta situação de degradação contínua, e também de demolição, vai contra o sentimento que os guardenses têm sobre a urgência de salvaguarda e de reabilitação do seu património enquanto símbolo de identidade coletiva. Os governos locais, ao longo do tempo, não sentiram ou não souberam cumprir essa missão, tão urgente quão necessária e indispensável. Além disso, o património é, mas não é só, o Centro Histórico. Há casas que remontam a séculos anteriores, designadamente ao século XIX, que mereciam e merecem ser reabilitadas e respeitadas na sua arquitetura original, independentemente da adaptação às condições de vida atuais. Nos locais com história contamos com a sensibilidade e o estudo continuado dos nossos arquitetos para intervirem no sentido da preservação da História da nossa cidade e do nosso país e que o façam em colaboração com os historiadores, historiadores de arte, arqueólogos e antropólogos. É isso que vemos nos restantes países da Europa e, fora da Europa, por exemplo, nos Estados Unidos da América (falo do que sei).
P – Como veem, então, o Centro Histórico da Guarda?
R – O Centro Histórico continua a aguardar há décadas que a autarquia dê um impulso definitivo para o tornar um lugar diferenciador da cidade, um lugar que dá identidade à cidade e aos seus cidadãos, um lugar para onde os turistas são atraídos e que, ao ser reabilitado, ajudaria a dar um impulso à sua economia e a estabelecer o seu lugar no país e no mundo. Os turistas procuram o que é diferente. Quando estamos no estrangeiro, nós também procuramos o que é diferente, o que gera uma identidade, e não o que é banal e comum. E apenas depois do trabalho de reabilitação ter sido feito será legítimo e sensato concorrermos a Capital Europeia da Cultura. Antes disso nunca.
P – Sendo uma associação que pretende essencialmente sensibilizar e chamar a atenção, como o têm feito? Têm alguma iniciativa prevista para breve?
R – Por um lado, temos promovido visitas à muralha, por estar na origem e continuidade da cidade ao longo dos séculos. Temos uma muralha que, poucos se apercebem, mas é uma realidade invejável em relação a muitas outras cidades portuguesas. Precisa é de ser limpa e reabilitada, de ter a devida sinalização de modo a ser identificada em toda a sua extensão, mesmo nos troços que foram absorvidos pela malha urbana e abertura de ruas. Por outro lado, e relativamente a novas iniciativas, na passada segunda-feira a Associação PATRIMÓNIO.Guarda, em parceria com a Academia Sénior/APADG, fez uma visita guiada ao Centro Histórico. Posso ainda referir que os membros da própria Associação vão, dentro em breve, iniciar trabalhos de inventariação e interpretação do variado património material e imaterial do concelho. As nossas atividades serão divulgadas em breve através das redes sociais em PATRIMÓNIO.Guarda. Para quem nos quiser contactar mais directamente, o nosso email é geral.patrimonio.guarda@gmail.com.
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Perfil:
Luísa Queiroz de Campos
Presidente da direção da Associação PATRIMÓNIO.Guarda
Idade: 72 anos
Naturalidade: Famalicão da Serra (Guarda)
Currículo (resumido): Foi professora coordenadora no Instituto Politécnico da Guarda e na UBI, nas áreas de Línguas e Literaturas e de História da Arte; Na Universidade de Cambridge (Reino Unido) e Universidade de Rhode Island (EUA) foi Leitora de Português, ao serviço do Instituto Camões; Exerceu funções de coordenadora de departamento; Foi avaliadora de projetos europeus: Comenius, Grundvig e Erasmus; Ajudou a promover a interculturalidade e integração de estudantes estrangeiros no IPG, tendo estabelecido um gabinete de apoio aos alunos dos PALOP; Colaborou com a Academia Sénior, dando aulas de Inglês e de História da Arte; Foi autora de várias publicações nas áreas em que lecionou e colaboradora regular do jornal O INTERIOR; É deputada na Assembleia Municipal da Guarda.
Livro preferido: A ter de escolher um, adequa-se uma antologia de poesia: “Rosa do Mundo: 2001 Poemas para o Futuro”, da editora Assírio e Alvim
Filme preferido: Todos os anos há preferidos
Hobbies: Faz parte do coro da Academia Sénior/ APADG