Cara a Cara

«O fado esteve uns anos mais esquecido e parado, mas (…) o interesse está a voltar»

Cara
Escrito por Jornal O INTERIOR

Entrevista a Cassandra Cunha, Vencedora do concurso EDP TANTO FADO

P – Foi a grande vencedora do Concurso EDP Tanto Fado. O que significa para si este prémio?
R – Significa o início de uma vida que eu ansiava muito. É uma porta, uma ajuda muito grande e uma oportunidade incrível, porque eu não tenho assim tanta experiência dentro deste mundo e ao darem-me assim uma mão é incrível. É o começo de muito trabalho e de um caminho que quero percorrer.

P – Quando e como começou a paixão pelo fado?
R – Foi muito instintivo. Em casa ouvem-se todos os estilos musicais, mas nunca se ouviu nenhum em específico. E o gosto pelo fado surgiu de forma instintiva. Nos últimos anos comecei a ouvir fado e a entregar-me muito ao fado e àquilo que me diz. Eu só ainda cantei em público três vezes. A primeira, aqui, em Santa Marta, que foi onde tudo começou. E a minha mãe incentivou-me a inscrever-me no concurso, depois com a ajuda de dois grandes amigos que ainda me ajudam em tudo e me acompanham sempre. São eles o senhor António e senhor Vitém, que são viola de fado e guitarrista e sempre me incentivaram dizendo que eu até tinha jeito, que cantava com o coração.

P – Porque decidiu inscrever-se no concurso?
R – Eu ajo muito por instinto. A minha mãe já me tinha inscrito em vários programas de televisão e vários concursos, mas nunca senti que era aquilo. E desta vez, não sei porquê, foi ela também que me falou do concurso e fui adiando. Só quase no último dia é que fui gravar e concorri. Mas foi mesmo por instinto, houve algo que me disse que tinha de ir e que era com o fado que me ia conseguir entregar à música e passar a minha mensagem.

P – Em relação ao seu percurso, como veio parar ao Instituto Politécnico da Guarda (IPG)?
R – Eu gosto muito das artes, gosto de dançar e cantar, mas depois tenho um lado de cientista, de descoberta, de esmiuçar certas questões e tudo aquilo que já está como dogma e então decidi ir para Farmácia. O meu primeiro destino de eleição era o Porto, mas, mais uma vez, o destino quis levar-me até à Guarda. Não foi a primeira opção, mas acabei por ficar por lá. Depois de conhecer o povo da Guarda e a sua abertura, fiz grandes amigos e comecei a embrenhar-me e já não consegui sair. Quando terminei a licenciatura houve oportunidade de fazer mestrado no IPG e foi aí que tive o meu primeiro trabalho: consegui uma bolsa de investigação em cosmética natural, que era aquilo que mais gostava na área de Farmácia. Entretanto estou a dar aulas e fui ficando pela Guarda, que já considero o meu segundo lar, sem dúvida.

P – Em relação ao futuro, haverá um cruzamento entre o fado e a ciência ou serão caminhos opostos?
R – Para já quero continuar nas duas áreas porque, em primeiro lugar, preciso de trabalhar e para já a música não me está a dar rendimentos para conseguir manter as minhas contas. E depois ensinar é uma coisa que adoro. Quando comecei a dar aulas descobri que é uma das coisas que gosto de fazer e que também está ligado à música, que é partilhar a palavra. É ensinar e aprender, porque, embora esteja nas aulas a ensinar alguma coisa, em todos os momentos estamos a aprender seja a dar aulas ou na vida em geral. E eu gosto mesmo de falar e de criar projetos para as pessoas e as aulas também me dão essa parte. Mais futuramente, e se eu conseguir viver só com a música onde também tenho a oportunidade de passar uma mensagem e de chegar às pessoas, seria ótimo, porque às vezes quando não estamos focados só numa é um bocadinho difícil darmos cem por cento de nós. Ao nos dividirmos não vamos, se calhar, desenvolver algo máximo. Para já eu tenho de fazer ensino, porque preciso dos meus rendimentos, mas se um dia me conseguir focar só na música eu preferia dedicar-me um pouco mais e assim dar e desenvolver melhor a minha paixão.

P – Qual a sua opinião sobre o fado? Acha que pode estar em risco ou que esta nova geração de fadistas está a trazer uma alma nova a essa música?
R – Acho que todos os portugueses têm um pouco de fado dentro de si porque já nascemos com um bocadinho do fado e com aquilo que carrega dentro de si e é isso que nos distingue e caracteriza. O fado esteve uns anos mais esquecido e parado, mas tudo é um ciclo na vida e o interesse está a voltar para investir e fazer algo crescer por parte de cada pessoa que tem voz e esta paixão. Há muitos talentos escondidos e devíamos apostar mais um bocadinho nisso. Deviam existir oportunidades como estas que procurem as pessoas do meio, acho que é um caminho de segurança. E na minha opinião o fado não está em risco.


CASSANDRA CUNHA

Vencedora do concurso EDP TANTO FADO

Idade: 26 anos

Naturalidade: Santa Marta de Penaguião (Vila Real)

Profissão: Técnica de Farmácia e Professora no IPG

Currículo (resumido): Licenciada em Farmácia na Escola Superior de Saúde do IPG, Mestrado em Ciências Aplicadas na Saúde, formadora profissional em Óleos Essenciais e Medicina Alternativa

Filme preferido: “The Boy Who Harnessed the Wind”, de Chiwetel Ejiofor

Livro preferido: “As Quatro Verdades”, Don Miguel Ruiz

Hobbies: Cosmética Natural, dançar e ouvir música

Sobre o autor

Jornal O INTERIOR

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