P – A CERCIG ficou surpreendida com o processo da venda do terreno no Parque Industrial para a construção de um hospital privado. A Cooperativa estava mesmo interessada no lote? Porquê e para que finalidade?
R – Há vários anos que a CERCIG tinha mostrado interesse naquele terreno contiguo às nossas instalações na quinta, junto ao parque industrial. Era o único sítio por onde nos podíamos expandir, mas na altura da primeira demonstração de interesse da nossa parte ainda não tínhamos qualquer projeto para o espaço. Mais tarde, aquando da aprovação da candidatura para a Unidade de Cuidados Continuados, voltámos a mostrar interesse no terreno porque sabemos que uma unidade de cuidados continuados de longa duração evolui para unidade de curta e média duração e também para unidade de cuidados paliativos. Formalizamos o pedido verbalmente e por escrito na Câmara. O que questionamos, em primeiro lugar é porquê o hospital privado ali, quando havia um pedido nosso ao qual nunca foi dada resposta.
P – O que achou a CERCIG do processo da hasta pública e dos critérios do caderno de encargos?
R – Na forma como foi realizada a hasta pública, a CERCIG não tinha qualquer hipótese de se candidatar. Os critérios de avaliação não nos permitiam ter sucesso no processo, tendo em conta alguns deles, como, por exemplo, a estimativa quanto ao número de postos de trabalho. Não compreendemos como podem ser mensuráveis à data da hasta pública. O caderno de encargos foi feito de forma que não fosse possível apresentarmos uma candidatura.
P – Mas, mesmo assim, porque não apresentaram uma proposta?
R – Como algumas pessoas dizem, se calhar estivemos distraídos. Achamos que as datas da hasta pública aconteceram no final do ano. Não nos apercebemos desses prazos, mas, pelos vistos, não fomos os únicos que estivemos distraídos até porque só houve dois concorrentes. Não querendo entrar muito nesta área, mas se o objetivo de uma hasta pública é valorizar o património público e ganhar com a venda, quanto mais publicidade houver melhor. Que não passe a imagem que tínhamos a possibilidade de nos candidatarmos porque, repito, não conseguíamos cumprir alguns critérios do caderno de encargos. Acredito que tenham cumprido tecnicamente com os sítios e locais da publicitação do processo, mas o que sabemos é que praticamente ninguém deu conta da hasta pública com exceção de duas empresas. Tendo o município conhecimento que estávamos interessados naquele terreno poderíamos ter sido informados pela Câmara que iria haver uma hasta pública.
P – A CERCIG aponta outras razões para discordar da forma como foi conduzido o processo pela Câmara?
R – Das duas uma: se objetivo era vender o terreno e ganhar dinheiro, então, foi vendido muito barato. Se o objetivo era ter um serviço para a população, fazia mais sentido, até do ponto de vista da gestão do património público, a cedência para um determinado fim. No caso da CERCIG, o terreno continuaria do domínio público caso não fosse cumprido o investimento.
P – A futura Unidade de Cuidados Continuados chegou a estar em causa tendo em conta que não obtiveram resposta da autarquia ao vosso pedido?
R – A unidade de cuidados continuados de longa duração da CERCIG nunca esteve em causa a partir do momento em que conseguimos aprovar a candidatura ao PRR. Poderia ser para a Guarda ou para a Covilhã. Apresentámos a candidatura e foi aprovada. À data da candidatura já tínhamos um Pedido de Informação Prévia (PIP) aprovado pela Câmara Municipal. O terreno que fez parte da candidatura era um espaço propriedade da CERCIG, na quinta, junto ao parque industrial, mais 318 metros quadrados à entrada da nossa propriedade, junto à estrada, numa permuta com o município. A autarquia cede-nos aquele espaço e nós, em troca, cedemos outro ao domínio público com a mesma área. Foi assim que ficou acordado há cerca de ano e meio. Vamos avançar com a construção e resolvem-se duas situações nas ruas Josué Pinharanda Gomes e Tiago Gonçalves.
P – Considera que a polémica está terminada?
R – Nunca houve polémica da nossa parte. Nós só queríamos dar uma resposta à comunidade. Nunca tivemos nada contra o município, nem contra a iniciativa privada ou, neste caso, o hospital privado. No entanto, gostaríamos de ter sido ouvidos.
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PERFIL:
Nome: Ricardo Manuel Pinto Antunes
Diretor executivo da CERCIG (Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados da Guarda)
Idade: 41 anos
Naturalidade: Coimbra
Profissão: Gestor
Currículo: Percurso profissional de 13 anos na área da Economia Social; Experiência profissional nas áreas de Gestão, Contabilidade, Fiscalidade e Finanças; Gestão de ESNL; Licenciatura em Gestão (IPG); Pós-graduação em Contabilidade e Finanças (Universidade de Coimbra); Pós-graduação Lato Sensu – Especialização em Gestão de Unidades de Saúde; Business Administration (Baltic University Latvia).
Hobbies: Desporto, caminhadas, ler e jardinagem