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«Antes da Revolução, muitos jogos eram limitados e havia restrições»

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Escrito por ointerior

P – O projeto que desenvolveram enquanto voluntários com a Associação de Jogos Tradicionais da Guarda foi distinguido com o “Prémio de Boas Práticas de Voluntariado Jovem” pelo IPDJ. Como é que a equipa recebe esta notícia?
R – Com muita alegria e orgulho. Para nós, foi uma confirmação de que o nosso trabalho e a dedicação ao projeto “Jogo Livre”, da Geração Z do IPDJ, realmente impactaram a comunidade e destacaram a importância dos jogos tradicionais. Em equipa, com a Cristiana Ferreira, a Mariana Urgueira e a Simone Fontes, sabemos que esse reconhecimento reflete também a importante orientação da Associação de Jogos Tradicionais da Guarda (AJTG), sem a qual este projeto não teria sido possível. Esta distinção motiva-nos a continuar a preservar e valorizar o nosso património cultural e reforça a importância do voluntariado jovem.

P – Para quem não esteve na sede da AJTG no aniversário da coletividade, onde foi apresentado o projeto, de que se trata e qual é o objetivo?
R – O nosso projeto, intitulado “Jogo Livre – A liberdade através dos jogos tradicionais – 50 memórias de Jogos, 50 anos de Liberdade”, foi uma iniciativa para documentar e preservar os jogos tradicionais portugueses, relacionando-os com o impacto da liberdade conquistada com o 25 de Abril. Entrevistámos 50 pessoas, desde jovens a idosos, sobre os jogos que jogavam antes e depois da revolução. O objetivo foi recolher memórias e compreender como o conceito de liberdade influenciou a prática dos jogos. No passado dia 28 de agosto, no do 45° aniversário da AJTG, apresentámos as entrevistas numa exposição física com 50 fotografias, cada uma com um QR Code que leva à respetiva entrevista em vídeo, permitindo ao público conhecer as histórias e contextos desses jogos.

P – Como surgiu a ideia de relacionar o 25 de Abril com os jogos tradicionais? O que vos inspirou?
R – Foi o Instituto Português do Desporto e da Juventude, que nos apoiou e deu a ideia de comemorar os 50 anos do 25 de abril. No entanto, a ideia de relacionar os jogos tradicionais com o pré e pós Dia da Liberdade em Portugal foi nossa. Ela surgiu naturalmente, dado que tínhamos ideia de que a passagem para um estado democrático tinha influenciado a forma como os jogos tradicionais passaram a ser jogados o que, de facto, se confirmou. Entretanto a ideia foi-se desenvolvendo, tendo nós pensado nas entrevistas gravadas em vários pontos do concelho da Guarda, com pessoas de diferentes faixas etárias, e na exposição física que transportaria o público para os vídeos no “mundo digital”.

P – Que conclusões há a tirar do projeto? Qual é a relação entre o 25 de Abril e os jogos tradicionais, tendo em conta o testemunho dos 50 entrevistados?
R – As entrevistas mostraram que o 25 de Abril trouxe mudanças significativas, não só em termos políticos e sociais, mas também no dia-a-dia das pessoas, incluindo a forma como os jogos eram vistos e praticados. Observámos que, antes da Revolução, muitos jogos eram limitados e havia restrições, principalmente em espaços públicos. No entanto, em localidades com menos habitantes e onde o olho da PIDE não chegava, os jogos pareciam ser jogados livremente. Depois do 25 de Abril, evidentemente, as pessoas sentiram uma maior liberdade para brincar nas ruas, nas escolas e nos espaços comunitários, mas passaram a fazê-lo com menos frequência, trocando gradualmente os jogos tradicionais por atividades mais relacionadas com tecnologias.

P – O que vai acontecer a este projeto? Vai ficar na gaveta ou vai ter futuro?
R – Este projeto não ficará na gaveta. Além de estar em exposição com a AJTG, o nosso objetivo é ampliar a divulgação dos testemunhos recolhidos, tornando-os acessíveis a mais pessoas, principalmente aos jovens, para que compreendam a importância da nossa história e das nossas tradições. A próxima etapa será a instalação temporária da exposição no foyer do pequeno auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG) e com isso enriquecer o próximo projeto da AJTG, o seminário “O Associativismo na Guarda”, que decorrerá no dia 23 de novembro. Nesse mesmo seminário será também exibido um pequeno documentário com a compilação dos melhores momentos das 50 entrevistas.

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DADOS DE PERFIL:

NOME: José Nunes

Voluntário da Associação de Jogos Tradicionais da Guarda

Idade: 25 ANOS

Naturalidade: Guarda

Currículo (resumido): Licenciado em Engenharia Física Tecnológica pelo Instituto Superior Técnico

Livro preferido: “O Perfume”, de Patrick Süskind

Filme preferido: “The Danish Girl”, de Tom Hooper

Hobbies: Cozinhar

Sobre o autor

ointerior

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