P – Conquistou o prémio de melhor realizador na categoria “Take One!”, do Curtas Vila do Conde – International Film Festival. Como encara esta distinção, era algo que esperava?
R – Não… Eu enviei o meu filme para o festival, pois eu moro há dez anos no Porto, e o festival de Vila do Conde é uma coisa bastante presente. É algo de que sempre ouvimos falar, que quando temos oportunidade vamos… Então, já fiquei feliz o suficiente com a seleção do meu filme e de ter a possibilidade de ir. Mas o prémio, de facto, não esperava. Fiquei muito feliz, mas não era algo que eu esperava, de todo.
P – Já tinha participado em outras edições?
R – Tinha ido apenas como espetador, mas este foi o primeiro filme que coloquei a concurso neste evento.
P – Estudou muitos anos cinema no Porto, tendo agora vindo para a UBI para continuar os seus estudos. Houve algum motivo específico por ter optado por esta universidade do interior?
R – Nós já ouvíamos falar da UBI no departamento de Cinema, mesmo estudando no Porto. Durante o meu percurso no Porto tive a oportunidade de conhecer realizadores, atores, que tinham passado pela UBI. Conheci também – comecei por ouvir falar e depois conheci pessoalmente – professores aqui da UBI. Então, de certa forma, começou a parecer-me extremamente interessante vir para a UBI, em especial pelo que ouvia falar e do que me parecia que era. Acho que, de certa forma, tomei a decisão em cima [dessas razões], pois nunca tinha estado na Covilhã antes. Não foi propriamente uma decisão de “fuga” para o interior.
P – Como avalia as condições que encontrou? A nível da cidade, da universidade…correspondeu às suas expectativas ou esperava algo diferente?
R – Humm… Eu acho que é importante ter sempre noção que acabei agora o meu primeiro ano de mestrado e estou a iniciar o segundo, tendo passado grande parte do percurso no meio de uma quarentena. E eu estive na Covilhã durante esse período… Isto para dizer que não sei se tive uma experiência tão autêntica como seria suposto… Mas gostei muito, muito, muito, muito da Covilhã. Não sei se diria que fiquei surpreso com alguma coisa… Eu tenho a sorte de morar em Portugal desde os meus 10 anos e de já ter viajado bastante, tanto a título pessoal como devido a outros projetos [profissionais]. Então, de certa forma, já tinha uma ideia geral do que iria encontrar. Apesar de nunca ter ido, sabia mais ou menos o que eu iria perder, em relação ao Porto, e o que eu iria ganhar, em relação aqui. Na maioria das coisas fiquei surpreendido pela positiva. E acho que gostei muito.
P – No que respeita ao seu trabalho concreto… As curtas são o seu meio de eleição? Ou poderão ser uma rampa de lançamento para futuras longas-metragens?
R – Eu particularmente gosto do formato da curta-metragem. É o que tenho vindo a trabalhar desde há muito tempo. De facto, alguns dos trabalhos que tenho desenvolvido são de pouquíssima duração – como é o caso do trabalho que fiz para o Curtas Vila do Conde, que tem sete minutos. De certa forma não me interessa trabalhar em formato longa-metragem. Eu gosto da curta-metragem, do [pouco] tempo que exige para uma ideia, e que depois me permite rapidamente avançar para outra diferente. E acho até um desrespeito tratar a curta-metragem como uma rampa de lançamento, pois devemos trabalhar a curta como curta, e trabalhar as suas especificidades. Eu gosto muito e quero continuar a trabalhar curtas-metragens.
P – Mas em relação a esse formato o público é mais especializado… O mercado terá a mesma abrangência?
R – Não sei… Acho que a curta metragem tem [associadas] oportunidades diferentes. Por exemplo, o Curtas Vila do Conde, também há o Shortcutz [International Shortfilms Movement], que acaba por ser uma iniciativa espalhada pelo mundo… O que acho é que as oportunidades são diferentes e a nível de mercado também há diferenças. Acho que se trabalhasse em longa-metragem seria virtualmente impossível.
P – A nível financeiro ou criativo?
R – A nível criativo também, mas talvez mais a nível financeiro. Os concursos exigem sempre o pagamento de uma taxa para participar e nos eventos de longas-metragens essa taxa tem um preço muito superior. Além disso, uma longa-metragem dificultaria o processo de distribuição, de possibilitar que o meu filme fosse visto por mais pessoas. A nível de montagem, edição, também seria muito mais difícil. No que respeita até ao armazenamento… É preciso mais recursos, mais cartões de memória… Acho que esse formato torna tudo mais difícil.
Perfil de Lucas Tavares
Mestrando em Cinema na Universidade da Beira Interior
Idade: 25 anos
Naturalidade: Rio de Janeiro, Brasil
Currículo: Licenciou-se em Cinema na Escola Superior Artística do Porto (ESAP); Especialização em Cinema e Audiovisuais na Universidade do Porto; Mestrando em Cinema na Universidade da Beira Interior
Livro preferido: “A Peste”, de Albert Camus
Filme preferido: “Diários”, de David Perlov
Hobbies: Não tem.