P – É o novo selecionador distrital de seniores da Associação de Futebol da Guarda. Como surgiu este novo desafio na sua carreira?
R – Eu já colaborava com a Associação há cerca de oito anos na área do treino de guarda-redes. Sinceramente não sei qual a razão exata do convite… Mas acho que foi algo de natural. Como já estava envolvido e familiarizado com o funcionamento da organização – e também como saiu um elemento da equipa técnica –, a gestão da seleção distrital surgiu como o passo seguinte a dar no seio da AFG. Já conheço bem a dinâmica das coisas e o desenrolar dos processos, e talvez por isso os responsáveis tenham achado que eu seria a escolha certa.
P – Quais os principais objetivos que pretende atingir?
R – Em relação à seleção, o principal objetivo é que tenhamos uma equipa humilde e racional, mas muito competitiva, que sabe o que quer e o que deseja, de forma a ter a melhor performance possível em campo. Quando todos estes parâmetros estiverem reunidos ficaremos mais próximos do sucesso e da possbilidade de evoluir e passar à fase seguinte. A nível pessoal tenho como missão desempenhar o cargo com responsabilidade, mantendo um compromisso com a obtenção de resultados. Apenas isso. Nunca estabeleci para mim de forma definitiva as metas que acabei por alcançar – de ser jogador profissional e mais tarde treinador –, mas sempre dei o meu melhor para corresponder às oportunidades que me surgiram. O futebol sempre me perseguiu na minha vida, mesmo sem eu o planear.
P – A participação Taça das Regiões da UEFA é o seu primeiro teste. Acha que temos equipa e condições para ter uma boa prestação nesta competição?
R – O que tenho sublinhado é que os jogadores e o próprio torneio nos darão as indicações e pistas de como as coisas poderão vir a correr. Apesar de tudo, uma equipa pode sempre jogar de forma excelente em todos os jogos de um torneio e depois vir a perder, assim como o inverso também pode acontecer e a sorte estar do nosso lado – apesar da prestação não ser a melhor. Muita da beleza do futebol está na incerteza. Não posso nunca garantir resultados, mas o que posso prometer, da minha parte, é que pretendo que sejamos uma seleção competitiva, ambiciosa, que joga sempre para ganhar. É este o espiríto que quero incutir nos meus jogadores. É claro que os recursos de que dispomos são muito diferentes daqueles que existem nas grandes competições nacionais e internacionais, mas até esses não prevêm o futuro. Tudo é possível.
P – Como avalia o estado atual do futebol distrital?
R – Reflete um pouco a situação que se vive por toda a região. A nossa demografia, a nossa economia… Todos esses fatores vão ter impacto no futebol. Se não existirem empresas que possam apoiar e contribuir para o fortalecimento dos nossos clubes, pessoas para assistir e acompanhar os jogos e torneios, as equipas também acabam por ficar fragilizadas. A nossa região está a ser um pouco esquecida e os efeitos fazem-se sentir em muitas áreas. Apesar disso, temos de agradecer aos dirigentes, treinadores, jogadores e apoiantes que continuam a lutar para que o futebol se mantenha forte no distrito.
P – Acha que isso pode explicar o facto de algumas equipas do distrito não singrarem nas provas nacionais? O que falta para que consigam alcançar o sucesso?
R – Esses fatores têm influência, sem dúvida. Sem recursos humanos e financeiros é sempre difícil gerir uma equipa de forma a que se mantenha competitiva e permaneça nas competições nacionais. Com a revolução competitiva que houve no futebol português – o desaparecimento da IIª Divisão de Honra –, em que ficou apenas a IIIª Divisão, que resultou no atual Campeonato Nacional de Seniores, fez com que equipas que eram mais competitivas que as da IIIª Divisão fossem obrigadas a ocupar esse espaço. Há dezenas de equipas a nível nacional que têm já uma estrutura profissional ou semi-profissional em que o objetivo é chegar à IIª Liga, pois essa é a ponte para chegar à Iª Liga. No caso da nossa região, as equipas que conseguem efetivamente subir não têm depois os recursos, preparação e estrutura necessárias para ocupar esse patamar, o que dificulta a vida dos clubes. Por isso, dinheiro, organização, paixão e ambição são sempre essenciais para fazer face a todos esses obstáculos e evoluir.
Perfil de Luís Miguel Cerqueira:
Selecionador distrital de seniores da AF Guarda
Idade: 40 anos
Naturalidade: Vilar Formoso
Profissão: Treinador de futebol, colaborador técnico de futebol no IPG
Currículo: Mestre em Ciências do Desporto; Jogou como guarda-redes no Figueirense, Beira-Mar (2001/ 02), Caldas SC (2003/04), União Micaelense (2004/05), Lusitânia de Lourosa (no ano seguinte), passou pelo Nelas e regressou ao futebol distrital pelo Fornos de Algodres em 2009. Alinhou ainda pelo Figueirense, Trancoso e Manteigas, antes enveredar pela carreira de treinador a partir de 2015. Colabora há oito anos com a AFG, como treinador de guarda-redes.
Livro Preferido: Não tem um em particular
Filme preferido: “Braveheart”, de Mel Gibson
Hobbies: Praticar desporto