Cara a Cara

«As organizações estudantis, juvenis e partidárias continuam a precisar de captar jovens motivados e com sentido de causa»

Escrito por Sofia Craveiro

Entrevista a Lucas Chambel, guardense vogal na direção do Conselho Nacional de Juventude

P – A que se deve a sua eleição para o Conselho Nacional de Juventude?

R- O meu percurso associativo começou em 2016 a nível local, seguiram-se três anos em que ocupei cargos a nível local e nacional no âmbito de estruturas ligadas à saúde. Considero que o percurso académico só fica completo com experiências de valorização associativa. O movimento associativo tem ganho cada vez mais peso na mesa de decisão e gostava de fazer parte desta nobre missão de defesa dos superiores interesses das pessoas que representamos. Sob esta premissa, pedi o apoio e credenciação da Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia, da qual fui vice-presidente no ano transato, para apresentar uma candidatura a vogal da direção do Conselho Nacional de Juventude (CNJ). Entendi que chegou agora a hora de tentar representar os valores que levo das experiências nacionais e internacionais, com representação na European Pharmaceutical Students Association, para esta estrutura de grande importância na persecução da evolução juventude portuguesa.

P – Para que serve este organismo?

R – O CNJ foi criado em 1985 – celebra este ano 35 anos – e conta com Organizações Membro das mais diferenciadas áreasestudantis, juvenis e partidárias. A sua missão é bem clara e constitui-se como plataforma de diálogo e de intercâmbio de posições e pontos de vista entre as organizações e conselhos de juventude. Destina-se também a refletir sobre as aspirações dos jovens, promovendo, designadamente, o debate e a discussão sobre a sua situação e problemática. Estas e outras aspirações são o que movem a estrutura do CNJ e a direção da qual faço parte. O CNJ, apesar de manter uma linha de coerência de temáticas em sucessivos mandatos, tem sabido reinventar-se para corresponder às áreas de maior preocupação da juventude portuguesa. Saber representar os jovens é entender os momentos de cada era e ser moldável o suficiente para que a sua estrutura entenda que tem de mudar de modo a adaptar-se. Numa modulação dicotómica, o CNJ assume-se como uma estrutura promotora de atividades de grande relevo, ao mesmo tempo que debate e apresenta aos demais agentes decisores temáticas que se considerem fundamentais e perenes nos dias de hoje, exemplo disso são as recentes tomadas de posição sobre saúde e ambiente. O Encontro Nacional da Juventude é um pilar no plano de atividades do CNJ, a sua pertinência e qualidade capta a atenção de centenas de jovens por todo o país.

P – Que propostas/ iniciativas tenciona apresentar ou levar a debate?

R-A nível geral, as candidaturas apresentadas nas recentes eleições identificam como eixos transversais a representação da juventude e a aproximação necessária a todas as Organizações Membro. Será ainda de extrema importância trabalhar na descentralização do CNJ, de modo a atingir uma aproximação ao poder local e garantir a coerente distribuição da preocupação com a juventude em cada ponto do país. O CNJ trabalhará com as suas Organizações Membro para identificar os temas que mais se assumem como obrigatórios, uma vez que as mesmas são parte integrante do CNJ. Na vertente da saúde, pela qual serei responsável, pretendo ir de encontro às questões estruturais do atual momento da sociedade, a promoção de hábitos de vidas saudáveis, bem como a questão da vacinação, serão, à partida, um dos assuntos que levarei a debate por se tratar de temas extremamente preocupantes.

P-Quais são atualmente as principais dificuldades das estruturas representativas da juventude em Portugal?

R – O movimento associativo, que bem conheço, continua bastante vivo no nosso país. O sentimento de que cada jovem se sinta representado pelas estruturas associativas continua a inspirar os dirigentes, que abdicam de condições de descanso para dedicar horas e esforço a estas estruturas. Ainda assim, as organizações estudantis, juvenis e partidárias continuam a precisar de captar talento e jovens motivados, com sentido de causa, para continuarem a crescer. Assumir o combate à inércia e aos comodismos fará com que as gerações evoluam e pertençam cada vez mais a estes movimentos. Infelizmente, o meio académico mais formal ainda não admite este tipo de experiências como vitais para a formação de melhores profissionais. Acaba por tentar fechar as portas a muita motivação quando não oferece as condições necessárias aos jovens para desenvolverem outras atividades fora do plano curricular de estudos.

P- O que deve ser feito para fazer regressar os jovens aos territórios do interior?

R – Entendamos esta pergunta como a pergunta de sempre com a resposta de sempre e com o insucesso das suas medidas de sempre. Neste campo, que muito me preocupa, o poder da tutela tem de passar das palavras às ações. Apesar de entender que muito do poder local já tomou algumas medidas de incentivo, só uma estratégia central de garantias de qualidade de vida social e profissional podem solucionar este problema. Acredito que um dos pontos chaves seja a afirmação das instituições de ensino superior do interior como polos de referência de ensino e oportunidades de integração no mercado de trabalho. Por outro lado, entendo que se é necessário captar mais juventude e mais qualificada para o interior – que levará ao consequente desenvolvimento das regiões – acredito que será importante, em simultâneo, criar uma rede de embaixadores do interior capazes de defender e representar o interior nas áreas metropolitanas de modo a valorizar as suas origens. Como natural da Guarda, sei que devo muito a toda esta região pela formação exímia que me proporcionou. Exemplo disso são as excelentes representações no movimento associativo de jovens da mesma zona.

Perfil

Lucas Chambel
Vogal da direção do Conselho Nacional da Juventude

Profissão:Estudante de Ciências Farmacêuticas

Idade: 22 anos

Naturalidade: Guarda

Currículo (abreviado): Vogal da direção do CNJ (2020); vice-presidente da APEF (2019); vice-presidente AEFFUL (2018), Business Developer Lydia Solutions (2017); Departamento Comercial e Logística AEFFUL (2017)

Livro preferido: “A Causa das Coisas”, de
Miguel Esteves Cardoso

Filme preferido: “The Shawshank Redemption”

Hobbies: Música, golfe e documentários

Sobre o autor

Sofia Craveiro

Leave a Reply