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Vergílio Ferreira regressou à Praça de São Pedro

Manuscritos inéditos do romancista e documentos da PIDE estão online gratuitamente desde a passada sexta-feira

Vergílio Ferreira voltou à Praça de São Pedro, em Gouveia. O busto refeito pelo escultor Fernando Fonseca, a partir de um molde que guardou, foi reposto na sexta-feira no mesmo pedestal de onde tinha sido roubado há cerca de dois anos, no âmbito das comemorações do centenário do nascimento do romancista (1916-1996) natural de Melo.

O escritor nasceu a 28 de janeiro na freguesia gouveense de Melo e cem anos depois a data foi o pretexto para a Quetzal reeditar a obra completa do autor de “Aparição” e “Manhã Submersa”. O momento simbólico decorreu na Biblioteca Municipal que tem o seu nome e à qual Vergílio Ferreira doou parte do seu espólio e documentação pessoal. No dia seguinte, o diretor-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas substituiu o ministro da Cultura, João Soares, nas cerimónias oficiais de evocação do autor. Silvestre Lacerda anunciou que a Torre do Tombo está a disponibilizar “online”, e gratuitamente, um conjunto de manuscritos inéditos relacionados com o escritor que pertenciam «ao fundo dos Serviços de Censura e também da PIDE/DGS», a polícia política da ditadura. «Parte desses documentos dizem respeito à censura do livro que conhecemos como “Manhã Submersa” mas cujo título original era “Cavalo Degolado”. São os apontamentos em que Vergílio Ferreira justifica à Censura a importância da obra e consegue convencê-los a deixarem publicá-la», adiantou o responsável.

Segundo Silvestre Lacerda estão ainda acessíveis documentos sobre a vigilância que PIDE fazia do romancista, uma informação que, a partir deste ano, vai ser disponibilizada pelo Arquivo Nacional, «assim como cerca de 18 milhões de imagens acessíveis gratuitamente». A instituição também facultará cerca de 300 reproduções de documentos, destinados ao «público em geral, mas, naturalmente, com interesse particular para os investigadores de Vergílio Ferreira e da sua obra». Organizadas pela Câmara de Gouveia, as comemorações do centenário do nascimento do escritor vão decorrer até janeiro de 2017, com iniciativas que darão a conhecer ao público «as paixões» de Vergílio Ferreira pela pintura, pela música, pela sua terra e pela Serra da Estrela, adiantou Luís Tadeu, autarca local. Na sexta-feira, o filho do escritor, o psiquiatra Virgílio Kasprzykowski, foi uma das personalidades que marcou presença nas cerimónias. Mas há mais atividades programadas para recordar o escritor. No segundo semestre deste ano, a Biblioteca Nacional realizará uma exposição com documentos do escritor que revelam «a especificidade dos processos de escrita» e são «testemunhos da sua intervenção sociocultural».

Já a Universidade de Évora – cidade onde foi professor do secundário – organiza, de 29 de fevereiro e 2 de março, um congresso sobre a sua obra. Na Guarda, a Secundária Afonso de Albuquerque, cuja biblioteca se designa Vergílio Ferreira desde fevereiro de 2000, alunos, professores, funcionários e pais foram desafiados a reescrever à mão duas das suas obras: “Contos” e “Manhã Submersa”. O resultado final, que se prevê estar concluído a 1 de março, dia da morte do escritor, será posteriormente encadernado. Também o deputado gouveense Santinho Pacheco, que conheceu o autor e presidia à autarquia na data da sua morte, propôs um voto de homenagem a Vergílio Ferreira na Assembleia da República. «Ler a obra vergiliana é a verdadeira homenagem que se pode fazer ao escritor; voltar a ter “Aparição” como livro de leitura obrigatória no 12º ano será um gesto de enorme simbolismo», escreveu o parlamentar socialista eleito pelo círculo da Guarda.

Dois anos depois de ter sido roubado, busto de Vergílio Ferreira voltou ao centro de Gouveia

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