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«Todo o Ocidente está neste momento na mira do terrorismo islâmico»

Cara a Cara – Entrevista

P-É pró-reitor para as ligações da universidade com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Que iniciativas serão desenvolvidas?

R-Vou continuar as iniciativas que tenho vindo a desenvolver desde que sou pró-reitor para a cooperação com os países lusófonos, e já o sou há uns anos, desde 1996, se não me engano. Houve uma interrupção enquanto estive de licença sabática, mas depois retomei. Dentro das medidas que temos encetado a este respeito, temos dado especial atenção às instituições congéneres nos países africanos de língua portuguesa. Temos um protocolo com a Universidade Agostinho Neto (Angola) e estamos em vias de assinar outro com a Universidade de Eduardo Mondlane (Moçambique). Temos igualmente um protocolo assinado com uma instituição privada de ensino superior de Cabo Verde, o Instituto de Estudos Superiores Isidoro da Graça (IESIG) e temos muito boas relações com o Instituto Superior de Educação de Cabo Verde. Temos implementado uma cooperação diversificada, abrangendo tanto as áreas tecnológicas, como as das ciências sociais e humanas. A cooperação tem visado o intercâmbio de estudantes e docentes e o desenvolvimento de projectos de investigação conjunto, o que pretendemos incrementar ainda mais.

P-E que apoios são dados aos alunos dos PALOP a frequentarem a UBI?

R-Cabe-me desenvolver uma espécie de tutoria em relação a estes estudantes, ver as suas condições de acolhimento e estudo, ajudar a debelar as dificuldades que, por vezes, surgem com as suas bolsas de estudo. Alguns são bolseiros do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, outros de Instituições dos próprios países e outros ainda financiados pelos pais e nem sempre estas bolsas chegam a tempo. Cabe-me igualmente desenvolver um bom relacionamento entre eles e a UBI. Também me ocupo da integração dos estudantes timorenses que vieram estudar para Portugal ao abrigo de um programa desenvolvido pelo Conselho dos Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) com a Universidade de Díli.

P-Colaborou no livro “Terrorismo”, coordenado pelo professor Adriano Moreira. Acha que Portugal poderá estar sob a ameaça de um possível atentado? Porquê?

R-Acho que sim. Todo o Ocidente, neste momento, está na mira do terrorismo islâmico. E esse é o terrorismo que, até ao momento, se globalizou. Se quisermos encontrar as suas origens deparamos com duas causas que me parecem relevantes. Uma diz respeito ao conflito israelo-palestiniano que tem que ser resolvido e a outra tem a ver com o ressentimento que grassa no mundo árabe, decorrente do colonialismo europeu. Este importa a longa duração. Mesmo que fosse possível resolver o conflito israelo-palestiniano de um dia para o outro, o ressentimento perduraria ainda por mais algum tempo. Só depois de um diálogo e de uma autocrítica ocidental, que me parecem imprescindíveis, é que nos aproximaríamos da concórdia que tanto almejamos. Mas não gostaria de culpar, neste diferendo, apenas o Ocidente. O mundo islâmico tende também a fechar-se sobre si mesmo, atitude de que os muitos fundamentalismos que por lá grassam são o corolário. Não têm aproveitado as inúmeras oportunidades que o capitalismo também oferece. E esta é, segundo creio, também uma importante causa.

P-E acha que pode haver um atentado nos grandes eventos que se realizarão em Portugal, como o Rock in Rio ou o Euro 2004, tal como muitos prevêem?

R-Eu não sou profeta e oxalá que não houvesse, mas no terrorismo é a imprevisibilidade que nos assusta. Provavelmente, eles não estarão a apontar para os grandes eventos pois sabem que nestes a vigilância será redobrada. O meu medo é que aconteça precisamente fora desses eventos, em circunstâncias e momentos menos esperados. Oxalá que não, mas tenho algum receio, como a maioria das pessoas.

P-No processo de descentralização administrativa, qual o melhor modelo para a região?

R-Julgo que o melhor modelo seria manter o eixo estruturante da Beira Interior, ou seja, as auto-estradas A23 e A25, ligando Vilar Formoso, Guarda, Covilhã e Castelo Branco. Não tem, por exemplo qualquer sentido separar a Covilhã do Fundão. Mas parece-me que isto tudo está a ser feito muito apressadamente. Não temos identidades étnicas a marcar a singularidade global mas há identidades territoriais que devem ser atendidas neste processo, que deveria ter começado por uma inquirição às populações visadas. Haveria de haver mais ponderação a este respeito.

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