«Em declarações à Antena 1, William Spindler garante que mais de 90 por cento das pessoas que chegam de forma clandestina têm como único objetivo fugir da guerra. Mais de 70 por cento são oriundos da Síria, 14 por cento do Afeganistão, e muitos outros fogem dos conflitos no Iraque. O responsável argumenta que é importante prestar apoio aos refugiados antes de chegarem de forma ilegal à Europa. A maioria dos refugiados sírios ainda está nos países vizinhos, nomeadamente Turquia, Líbano, Jordânia e Egito». (Sandra Henriques, site RTP)
A palavra syriana voltou ser utilizada após a Guerra do Golfo e novamente após o derrube do governo de Saddam Hussein no Iraque. Refere-se à disputa entre as grandes corporações dos EUA e seus aliados pelo direito de reconstruir as cidades destruídas pelas guerras e, claro, quem ficará responsável pelos poços de petróleo (Wikipedia).
A Síria é apenas o mais recente caso “à syriana” onde os americanos e seus aliados têm as mãos cheias de sangue de inocentes. O protocolo é sempre o mesmo. Se há petróleo tem que se depor o líder ou ditador, mas entrar à força dá muito nas vistas. Como a Síria sempre foi fortemente apoiada pelo Irão e China, não seria possível fazer o mesmo que no Iraque. Então a opção passou a ser o fomento e financiamento, secreto, da dissidência, sob os auspícios de mais uma “primavera árabe”. Com o que estes não contavam era com a tomada de posse das cidades revoltosas, como a pobre Allepo, por parte de uma corja autointitulada de Estado Islâmico (EI). Quando se deu conta, a CIA teve que informar o “shôr” presidente de que os EUA estavam a dar mais um tiro nos pés, que estava a ser pior a emenda que o soneto e que o habitual protocolo não poderia mais ser aplicado, pelo que deveriam retirar o apoio aos rebeldes passando à “neutralidade”. Mas foi tarde demais. O EI ganhou uma dimensão gigantesca transformando esta guerra numa sem fim à vista. Os EUA e aliados (ou alienados) ficaram a ver e os seus “empresários das pistolas” a fornecer, muito provavelmente, os dois lados e a faturar fortemente, nesta fase, e os “empresários do betão armado” e os do petróleo na (re)construção civil e no crude, respetivamente, quando a coisa acalmar. A intervenção calamitosa dos EUA e dos aliados (quase sempre só os “bifes”) no Afeganistão (onde a lucrativa produção e tráfego de derivado de papoila disparou 1.000% após a sua entrada) e as lutas tribais pelo poder no Iraque (que permanecem e se intensificaram após a retirada) deixaram milhões de inocentes sem nada e com a promessa de uma vida melhor a milhares de quilómetros nesse novo El Dorado, denominado Alemanha. Sempre com essa ténue luz ao fundo do túnel arriscam a vida num êxodo como não se via desde a segunda grande guerra. Para Obama é um problema da Europa. Manda entendermo-nos, organizarmo-nos e acolhermos com humanidade estes milhões de desgraçados, mas, convenientemente, descarta e ignora o catastrófico papel que a sua máquina de guerra teve neste mesmo problema e no crescimento canceroso do Estado Islâmico. Não fosse essa barreira, para muitos intransponível, chamada mar mediterrâneo e estaríamos ainda em piores lençóis com milhões de refugiados na Europa. Mas entre estes haverá umas centenas ou milhares que irão, mais tarde ou mais cedo, cuspir na mão que os alimentou e acarinhou, rebentando-se numa esquina de uma cidade qualquer, que poderá ser a nossa, sublimando a raiva e os traumas na terra de quem os salvou. Entretanto, por cá, convém não esquecer o estigma que, no passado, caiu sobre os nossos retornados. Se fomos capazes de ser xenófobos com os do nosso sangue e religião imaginem o que poderíamos ser com quem não possui nenhuma destes dois predicados. O que “salva” o nosso país é que, para eles, não somos apetecíveis economicamente e preferem ir bater à porta da “bem nutrida”. Apesar de aqui o sol brilhar muito mais do que lá, parece que não é tão dourado.
Por: José Carlos Lopes