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«Vamos finalmente abrir um lar residencial e uma residência autónoma»

Cara a Cara António José Marques

P- De que forma procuram fazer a diferença no dia-a-dia dos vossos utentes?

R- A APPACDM da Covilhã nasceu em 2006 com a missão de apoiar cidadãos com deficiência mental, promovendo uma resposta adequada às suas necessidades e respetivas famílias com vista a uma melhoria de qualidade de vida, autonomia funcional e integração na comunidade. Por outro lado, temos como visão a criação de serviços de excelência técnica que acompanhem todo o ciclo de vida do cidadão com deficiência mental. Assim, temos em funcionamento um Centro de Atividades Ocupacionais que apoia jovens e adultos, portadores de deficiência moderada, grave, severa ou profunda. Este é um espaço de intervenção com competência terapêutica e de integração progressiva na realidade social. Visa a valorização pessoal e integração social, permitindo o desenvolvimento das suas capacidades sem vinculação a exigências de rendimento profissional ou de enquadramento normativo. Por este motivo, as atividades desenvolvidas são, fundamentalmente, de cariz ocupacional e de bem-estar, que procuram enquadrar e ajustar-se à necessidade de ajuda a cada um. Por outro lado, enquanto entidade formadora acreditada, temos em funcionamento um curso de formação em carpintaria.

P- Preparam-se para mudar para as novas instalações, o que vai trazer de novo?

R- As novas instalações vão permitir aumentar a capacidade das valências existentes e criar outras. O Centro de Atividade Ocupacionais irá duplicar a sua capacidade para um total de 60 utentes. Vamos, finalmente, abrir um lar residencial na região com capacidade para 24 utentes e uma residência autónoma para cinco. Além dos números, as novas instalações representam, porque pensadas e projetadas de raiz, um espaço com condições excecionais para o desenvolvimento e diversificação das atividades.

P- Que projetos têm pensados?

R- Além das alterações que já referi, decorrentes do novo espaço, a APPACDM da Covilhã tem em vista reforçar as parcerias já existentes com os Agrupamentos de Escolas do concelho por forma a responder às carências dos jovens com necessidades educativas especiais e também as diversas parcerias institucionais que têm vindo a ser estabelecidas e que permitem a integração de alguns clientes em várias atividades da comunidade.

P- Quais as principais dificuldades da instituição?

R- Para uma IPSS a principal dificuldade é sempre a sustentabilidade económica e financeira. No entanto, apesar dos elevados custos do novo edifício, uma gestão rigorosa permite-nos encarar o futuro com grande otimismo.

P- Recentemente tiveram alguns elementos a participar nos Jogos Mundiais do Special Olympics. Consideram importante a integração neste tipo de atividades?

R- O incremento da atividade desportiva adaptada é uma das grandes apostas que a instituição tem feito desde a sua fundação. Para além de ter vindo a participar em diversas iniciativas do Special Olympics Portugal, designadamente nas modalidades de atletismo, natação e basquetebol, realizou em outubro de 2010 na cidade da Covilhã os Jogos Nacionais, em dezembro de 2013 os 1ºs Jogos Adaptados da Cova da Beira e, em dezembro de 2014, os 2ºs Jogos Adaptados da Cova da Beira | 2ºs Jogos Regionais de Inverno do Special Olympics Portugal. A participação na delegação portuguesa nos Jogos Europeus e Mundiais é o resultado dessa aposta.

P – Diariamente, quantos utentes têm e com que idades?

R- Atualmente frequentam o Centro de Atividades Ocupacionais 30 utentes com mais de 16 anos dos concelhos da Covilhã e Belmonte e, na Formação Profissional, temos cinco. Damos ainda apoio a alunos com necessidades educativas especiais de todos os Agrupamentos de Escolas do concelho.

P- Considera que existem apoios suficientes a pessoas com deficiência?

R- No que diz respeito à área geográfica em que nos situamos (Castelo Branco/Covilhã/Guarda) existem diversas instituições que prestam apoio de grande qualidade ao cidadão com deficiência intelectual. No entanto, se considerada a totalidade do ciclo de vida, continua incompreensivelmente a não ser possível os jovens até aos 16 anos frequentarem estas instituições. Tudo isto porque a denominada “escola inclusiva” não o permite em idade escolar. Apesar de subscrever totalmente o conceito, existem casos evidentes em que deveria ser possível encaminhar esses jovens para instituições vocacionadas e com competências para esse apoio.

P- A sociedade está preparada para integrar jovens com deficiência?

R- O paradigma de “deficiente” felizmente sofreu grandes e positivas alterações nas últimas décadas. Hoje, o conceito é cada vez mais de “diferente”. Esta alteração, também muito graças ao trabalho de integração realizado pelas diversas instituições, é bem visível. No entanto, continua em aberto a necessidade de dar passos significativos em áreas como o emprego protegido. E essa é uma área que terá que envolver toda a sociedade.

Perfil

Presidente da APPACDM Covilhã

Profissão: Funcionário Público

Idade: 57 anos

Naturalidade: Santa Maria de Belém (Lisboa)

Currículo: Licenciado em Ciências da Comunicação, Presidente da APACDM da Covilhã, Presidente da Junta de Freguesia de Casteleiro (Sabugal)

Livro preferido: “O Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry

Filme preferido: “Casablanca”, de Michael Curtiz

Hobbies: Criação e seleção do cão Serra da Estrela

António José Marques

Sobre o autor

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