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«Somos uma ilha de sucesso no meio do descalabro que foi a participação portuguesa»

Cara a Cara – Entrevista

P – É uma grande satisfação o “Egiecocar3” ter sido o melhor carro português na Shell Eco-Marathon ao percorrer 903 quilómetros?

R – Sim. Para mim é extremamente gratificante chegar a esta altura, ao fim de sete participações em França, e obtermos o primeiro lugar entre os portugueses. Isto vem premiar a persistência com que nós temos encarado este projecto, em que vamos evoluindo passo a passo, pelo que o “Egiecocar3” já é uma boa base de trabalho.

P – Qual foi o segredo para esta performance?

R – Nós acreditamos que se o tempo tivesse estado bom, teríamos conseguido muito melhor. No entanto, dados os contratempos climatéricos, esta foi uma excelente participação. Basta só verificar que as melhores equipas francesas, que no ano passado fizeram resultados na ordem dos 3.100 quilómetros, quedaram-se desta vez pelos 2.400/2.500 quilómetros.

P – Mas, curiosamente, em relação ao ano passado fizeram apenas mais três quilómetros?

R – Sim, mas quero frisar que este ano, dadas as más condições atmosféricas, era muito mais difícil. Assim. esta marca de 903 quilómetros vale por mais. Se estabelecermos a relação da nossa marca de 900 quilómetros e os 3.100 das melhores equipas francesas, este ano respondemos com 903 contra os 2.400 deles… Isto com a contrariedade de só termos praticamente andado em pista durante o sábado, porque no domingo caiu uma grande carga de água, o que fez com que só estivesse disponível cerca de hora e meia e só para classificar carros que já estavam prontos e que não tinham tido oportunidade de correr na véspera. É com muita satisfação que encaro este 31º lugar, até porque a classificação traz um bónus porque, muito possivelmente, a nossa equipa vai ser repescada para ir a uma prova que a realizar em finais de Junho em Clermont-Ferrand, no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Michelin. É a primeira vez que vai decorrer e nós vamos estar lá.

P – A “barreira psicológica” dos 1.000 quilómetros é para bater para o ano?

R – Sim. Já estávamos bastante confiantes para este ano e estamos quase convictos de que, se o tempo tivesse ajudado, seria este ano que ultrapassávamos os mil quilómetros. Provavelmente até teríamos chegado aos 1.200, 1.300 quilómetros. As alterações introduzidas no carro foram muito pequenas. Estávamos a fazer uma grande aposta na injecção e levávamos tudo muito bem equilibrado. Aliás, o carro prima pela suavidade de deslizamento.

P – Para o ano vão continuar a apostar no “Egiecocar3”?

R – Sim, mas já com injecção e daqui a dois anos muito possivelmente queria ver se apostava nas energias alternativas, nas emergentes. Entretanto, vou continuar também a desenvolver o “Solareco”, a correr só com energia solar.

P – O êxito do projecto do Egiecocar está assim conseguido, como comprova o resultado obtido?

R – Sim, e ainda para mais face às difíceis condições em que se realizou a prova este ano, já que a nível das equipas portuguesas foi o descalabro quase completo. Dá a impressão que as equipas que têm ligações à ESTG foram muito bafejadas pela sorte. Nós conseguimos manter as marcas com que temos vindo a habituar as pessoas. Quanto ao Soito, que começou connosco, ganhou o prémio de design que é também uma forma de destacar o papel do João José Oliveira no meio disto tudo. A Escola de Trancoso, que começou este ano connosco, também obteve um bom resultado e a Escola de Barcelos, onde um dos responsáveis pelo projecto é um antigo aluno nosso, foi a segunda melhor equipa portuguesa. Ficámos extremamente satisfeitos, porque somos quase uma “ilha” de sucesso no meio do descalabro que foi esta participação portuguesa. Ainda para mais com um piloto que conduziu pela primeira vez o carro e teve uma presença muito meritória. O Gil Bravo está de parabéns.

P – O Departamento de Mecânica tem sido um viveiro de novos talentos?

R – Essa é mesmo a palavra exacta. Tem sido um viveiro para outras participações e outras escolas na Shell Eco-Marathon. Aliás, temos sido uma grande escola de Shell Eco-Marathon.

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